Parto Natural ou Cesárea? A Resposta da Moral Católica Tradicional

Introdução
Entre mães católicas, em especial as tradicionalistas, pode surgir a dúvida: é lícito, de acordo com a fé tradicional, recorrer à cesariana, ou o único parto aceitável diante de Deus seria o natural?
A moral católica, iluminada pela Sagrada Escritura e pelo magistério constante da Igreja, fornece critérios claros para responder a esta questão, sempre em defesa da vida da mãe e do filho.
O valor da vida
A Igreja ensina que a vida humana é sagrada desde a concepção até a morte natural: “Vós me formastes no seio de minha mãe” (Sl 138, 13). A proteção da vida da mãe e da criança é, portanto, dever moral gravíssimo, e toda ação médica deve ser julgada à luz deste princípio:
“O nascituro é “humano” no mesmo grau e pelo mesmo título que a mãe […] A vida de alguém que é inocente é intocável, e qualquer tentativa direta ou agressão contra ela é uma violação.” [1]
Este ensinamento põe em relevo a obrigação de empregar meios lícitos para proteger e salvar ambos.
A medicina como instrumento da Providência
A Igreja não vê oposição entre fé e ciência. Pelo contrário, reconhece que o progresso médico, quando ordenado ao bem, é expressão da Providência divina: “Honra o médico por causa da necessidade; foi o Altíssimo quem o criou” (Eclo 38, 1).
Assim, recorrer a médicos e técnicas adequadas durante o parto constitui uso legítimo dos meios naturais que Ele mesmo concede.
Parto natural e parto cesariano
O parto natural, por sua própria índole, corresponde ao curso ordinário da natureza: “Darás à luz com dores” (Gn 3,16). Portanto, pode-se seguramente afirmar que a forma mais santa e perfeita de parir é através da modalidade natural.
Todavia, “o homem retém, mesmo após a queda, o direito de dominar as forças da natureza e usá-las para seu serviço e, portanto, contribuir com todos os recursos que lhe oferece para evitar e até mesmo suprimir a dor física”. [2] Portanto, o recurso à cesariana, quando apenas conveniente, mas não necessário, por mais que não seja a forma mais santa de agir, não é ilícito, se não oferecer prejuízo à vida ou saúde do bebê.
Outrossim, a cesariana torna-se recurso precioso quando complicações põem em risco a vida ou a saúde da mãe ou do filho, de modo que “deve-se unir o conhecimento perfeito da técnica, não só para favorecer todas as disposições psicológicas úteis para o bom estado dos doentes, mas também por um sentimento de caridade humana e cristã.” [3]
Assim, a Igreja não impõe que o parto seja necessariamente normal, mas admite a cesariana quando as circunstâncias médicas o exigirem ou recomendarem.
Conclusão
Não há, destarte, na moral católica tradicional, proibição ao parto cesariano. Pelo contrário, quando necessário ou conveniente, ele é lícito, e pode ser até obrigatório, em virtude do dever de conservar a vida e a saúde. O que a Igreja sempre ensinou é que mãe e filho são dons de Deus, e ambos devem ser protegidos com igual zelo.
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Esta palavra de Cristo ilumina a missão da família e da medicina: cooperar com o Criador para que a vida floresça, seja pelo parto natural, seja pela cesariana, segundo o que for mais seguro e prudente.
Notas de rodapé
[1] Pio XII, em AAS 43 [1951], pp. 835-854.
[2] Pio XII, discurso em 24/02/1957, disponível em https://www.vatican.va/content/pius-xii/es/speeches/1957/documents/hf_p-xii_spe_19570224_anestesiologia.html?utm_source=chatgpt.com, acessado por último em 30/09/2025, às 15:54.
[3] Idem, ibidem.