Da Lei Antiga à Lei da Caridade: A Plenitude em Cristo

O texto abaixo é a transcrição de sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, na Capela Coração Dulcíssimo de Maria, em São Paulo/SP, em 7 de setembro de 2025, 13º Domingo Depois de Pentecostes.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meus queridos filhos, hoje contemplamos a ação misericordiosa de Deus que libertou o Seu povo da escravidão, cumprindo a promessa feita a Abraão.
A lei natural já estava impressa no coração do homem desde Adão, mas, em razão do pecado original, a inteligência e a vontade ficaram obscurecidas. Já não era suficiente apenas a lei natural: tornava-se necessária a sua revelação explícita. Por isso, Deus a entregou ao povo por meio do mediador do Antigo Testamento, Moisés.
A lei não era o ponto final, mas preparação e via de condução até a plenitude da promessa realizada com o envio de Seu próprio Filho. Cristo não aboliu a lei, mas levou-a à perfeição, como ensina no Evangelho segundo São Lucas (cap. 5, vv. 17-18): “Nem um iota passará da lei”.
A lei serviu para libertar o povo da confusão e da escravidão dos vícios adquiridos na convivência com o paganismo, sobretudo no Egito, onde se impregnaram de idolatria e corrupções. A vida pagã conduz inevitavelmente à degradação e à servidão. Já o Evangelho nos mostra a obra sublime de Deus: resgata-nos do domínio do pecado pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, derramado na Cruz.
A verdadeira purificação consiste em devolver a Deus aquilo que Lhe pertence: as nossas almas. Não mais pela letra morta gravada em tábuas de pedra, mas pela letra vivificada e operante pela caridade divina, infundida em nossos corações pelo Espírito Santo. Só assim podemos cumprir a vontade de Deus: pela caridade que anima todas as virtudes, fortalece as potências da alma e nos torna capazes de imitar a Cristo, a ponto de dar a vida por amor.
Sem a caridade, é impossível agradar a Deus. Não basta ter boa vontade ou reta intenção; é necessário que o próprio Deus edifique em nós o homem interior.
Recorda-nos São Francisco de Sales: sem ruptura com o mundo, sem escolha consciente da cruz de Cristo, permaneceremos dispersos. A letra morta da lei é imagem do estado da alma quando afastada de Deus. Quem experimenta a graça deseja aprofundar-se continuamente na fidelidade, no combate contra o pecado, fomentando o ódio aos vícios, à carne, ao mundo e ao demônio. Se isso não se verifica, é sinal de que a cura não foi verdadeira, ou de que demos as costas ao Senhor.
Muitos preferem permanecer leprosos, fingindo estar curados; outros escolhem religiões fáceis, que acomodam o pecado e o espírito mundano. Contudo, a verdadeira fé católica exige ruptura, exige a cruz. É caminho gradual, exigente e por vezes doloroso, mas eficaz e constante, quando nos mantemos fiéis à graça divina.
Neste dia em que celebramos São Pio X, patrono da Fraternidade e das capelas amigas e associadas, peçamos à Santíssima Virgem Maria que nos alcance as graças necessárias para permanecermos firmes na obra da santificação. Que Ela nos preserve de voltar ao “Egito” da falsa religião e da vida mundana, conduzindo-nos sempre ao Coração de Seu divino Filho.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.