Santa Catarina de Sena: Prudência Sobrenatural e Amor à Igreja

O texto abaixo é o sermão proferido pelo Rev. Pe. Françoá Costa, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum (São Paulo/SP), em 30/04/2025, Festa de Santa Catarina de Sena.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Caríssimo Padre Wander, queridos fiéis,
Hoje celebramos a memória de Santa Catarina de Sena, grande doutora da Igreja. Até o século XVI, a Igreja reconhecia apenas oito doutores: quatro do Oriente e quatro do Ocidente. Esse número foi quebrado por São Pio V ao declarar Santo Tomás de Aquino como doutor, somando-se então nove.
Hoje, já perdemos a conta – são muitos doutores e doutoras. Santa Catarina é uma dessas virgens doutoras.
Ao preparar este sermão, recordei de um fenômeno curioso: talvez alguém tenha ouvido falar de um tal “pastor mirim”, uma caricatura tragicômica da religião. Deus pode, de fato, usar os jovens e até as crianças para Sua obra – não daquela forma ridícula, claro. Santa Catarina, com apenas sete anos, já tinha visões sobrenaturais. Aos quinze, entregou-se totalmente a Deus como terciária dominicana.
No século XIV, vivia-se uma grande crise na Igreja: o chamado cisma de Avinhão. O Papa residia na França havia cerca de 70 anos, sob forte influência dos reis franceses. Santa Catarina, analfabeta, começou a ditar cartas a personalidades influentes da Igreja, impulsionada por revelações divinas. Viajou, rezou, fez penitência, e chegou até o Papa Gregório XI. Santa Catarina o exortou a retornar a Roma, restaurando a ordem e a catolicidade ameaçada.
É notável que mesmo santos podem errar: São Vicente Ferrer foi enganado e reconheceu o antipapa como verdadeiro Papa. Já Santa Catarina, iluminada por Deus, discerniu corretamente. Os santos não são infalíveis, mas vivem a fé com heroísmo. Tomás de Aquino, por exemplo, não defendeu devidamente a Imaculada Conceição, pois ainda não era dogma em sua época. E, mesmo assim, é o Doutor Angélico. Deus conduz a verdade ao seu tempo.
Nesse espírito de discernimento, cabe a nós, católicos tradicionais, atentos à voz da Igreja e à herança da fé, buscar essa prudência sobrenatural. Há muitos que se dizem tradicionais hoje, mas sem a prova do tempo, sem a experiência e autoridade de um bispo como Dom Marcel Lefebvre, que participou do próprio Concílio Vaticano II e percebeu, desde dentro, os desvios do modernismo.
Dom Lefebvre dizia: “Se esta obra não for de Deus, ela acabará.” E já se passaram quase sessenta anos. A Fraternidade Sacerdotal São Pio X permanece firme porque sua raiz é sobrenatural. Outros movimentos talvez sejam santos, como São Vicente Ferrer foi, mas podem estar equivocados. Não nos cabe canonizar ninguém – não somos papas – mas importa estar do lado certo, como Santa Catarina esteve.
Essa prudência sobrenatural nos faz atentos às Escrituras, ao magistério, à direção espiritual, ao jejum, à oração, à penitência, ao que nos é dito nos sacramentos. Ela nos faz saborear as palavras da oração, oferecer sacrifícios por intenções concretas, ouvir conselhos, buscar a vontade de Deus com coração humilde.
Santa Catarina louvava incessantemente o Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Suas cartas estão repletas dessa expressão. Esse sangue que é real, que se oferece no cálice do santo sacrifício da Missa, que afugenta os demônios, que salva, que se toca, não é subjetivo. É objetivo. É exorcístico. É divino.
Que esse Sangue nos dê firmeza na fé, clareza no combate e amor pela Igreja, como teve Santa Catarina. Que saibamos rezar, jejuar, sacrificar e apoiar os que lutam ao nosso lado.
Conta-se que Santa Catarina, ao encontrar o Papa, ajoelhou-se e lhe disse: “Sua Santidade, está apodrecendo a Igreja. Volte para Roma.” Uma analfabeta, mas cheia do Espírito Santo. Uma santa que amou a Igreja mais do que a própria vida.
Dom Marcel Lefebvre dizia: “Seguimos a Roma eterna, não à Roma modernista.” Talvez seja hora de nós, como Santa Catarina, dizermos em nossas orações:
“Papa, volte para Roma! Volte à santidade, volte à fidelidade, volte a ser o sucessor de Pedro – e não de modernistas como Guitton ou Rahner!”.
Que o sangue de Cristo nos dê essa clareza, esse amor pela Igreja, e essa prudência sobrenatural que sabe discernir onde está a verdadeira Roma.
Santa Catarina de Sena, rogai por nós.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.