A Cegueira Espiritual e a Paixão de Cristo

O texto abaixo é a transcrição do sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, na Associação Cor Mariae Dulcissimum, em São Paulo/SP, em 06/04/2025, I Domingo da Paixão.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ontem, com espírito de ação de graças e oração, o Pe. Françoá Costa publicou uma nota simples, mas muito clara, anunciando sua união com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, como comunidade amiga.
Damos graças a Deus por mais esse passo. Certamente, como fruto de um ardente apostolado que virá, ele também experimentará uma nova perseguição. Mas com isso, Deus nos prova e nos purifica (cf. Hb 12,6).
Rezemos pela fortaleza dele e pelos frutos desse apostolado.
Meus filhos,
A cegueira espiritual é, sem dúvida, uma das realidades mais terríveis e pérfidas que existem, pois ela é provocada pela pior das doenças: o orgulho. Como dizia Monsenhor Marcel Lefebvre, o orgulho impede a inteligência de dar o seu assentimento à verdade e impede a vontade de aderir a ela.
A verdade revelada estava diante dos fariseus: eles viram milagres, ouviram a doutrina mais sublime, mas seus corações petrificados não foram transformados à imagem do Coração manso e humilde de Jesus (cf. Mt 11,29).
Eles rejeitaram o reinado de Nosso Senhor. Eram instrumentos do maligno, conduzidos por sua arrogância, negaram o Filho de Deus e se tornaram instrumentos temporais nos desígnios do Altíssimo para a Paixão de Cristo.
“Veio para os que eram seus, e os seus não O receberam” (Jo 1,11).
Essa imagem dos fariseus é o retrato da hierarquia atual, em sua maioria: claudicante, apóstata, que tem negado extensiva e ostensivamente o Filho de Deus, substituindo-O por idolatrias. A prova está nas concessões feitas a deuses falsos, como a Pachamama, e na imposição de uma “cultura ecologista” como uma ditadura.
A batalha que travamos é de ordem sobrenatural. Trata-se de restituir a Deus o que Lhe é devido e romper com toda forma de idolatria que leva à escravidão e à morte espiritual (cf. Rm 6,16). A via da Paixão é purificadora. Para nós, que fomos aspergidos pelo Sangue do Cordeiro, ela se manifesta na penitência, no combate à carne, ao mundo e ao demônio (cf. Ef 6,12).
O Sacramento da Penitência é um dom precioso. Ele dispensa a graça que incinera em nós o lixo do pecado, da aversão a Deus, da mentira e da vaidade. Ele nos coloca em via de emenda, nos restaura e fortalece na esperança do Céu. É o fogo que devora o joio da oposição a Deus em nossas almas e nos reconduz ao caminho da santidade (cf. Mt 3,12).
Só uma vítima, só uma oferta, só a sua renovação pode colocar tudo em seu lugar. E essa vítima está sobre nossos altares. A Missa de Sempre é a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário. É viva, eficaz, e é por isso que o demônio a odeia tanto. Ele a detesta e, por isso, tenta destruí-la, infiltrando seus servos na própria hierarquia para persegui-la e substituí-la.
O que seria de nós se o mistério do Filho de Deus não fosse renovado dia após dia, de forma incruenta, sobre os nossos altares? Que destino teríamos, que forças restariam em nós? Mas essa renovação não é apenas uma memória simbólica — ela é operativa, eficaz, infinitamente eficaz. Por isso, o demônio a persegue com tanto ódio.
Nosso Senhor disse: “Os que são de Deus me conhecem” (cf. Jo 8,47). A prova de que não se é de Deus é não reconhecer o mistério do Filho encarnado, não ter sacramentos autênticos, doutrina autêntica, aquilo que sempre se teve.
Durante esta Semana da Paixão, vivamos mais recolhidos e conscientes do tamanho da obra redentora de Nosso Senhor. Peçamos a graça de não sermos omissos, indiferentes, levianos. Não sejamos como Pilatos, lavando as mãos (cf. Mt 27,24). Ainda que não tenhamos a má-fé dos fariseus antigos ou do neofarisaísmo moderno, podemos cair na indiferença, na negligência, na omissão.
As perfeições que ainda não temos — espirituais, morais ou materiais — não nos afastam de Deus. O que nos afasta d’Ele é a covardia na luta contra os vícios, contra os defeitos dominantes, contra as paixões que nos dominam. Devemos saber distinguir entre imperfeições acidentais e a recusa de lutar contra o pecado. As privações que temos de determinadas perfeições devem nos humilhar, nos levar a oferecê-las a Deus e a nos colocar no nosso verdadeiro lugar.
Com o pecado, não negociamos (cf. Rm 6,23). Mas também não devemos cair na aflição, no desespero, na perturbação. Isso também nasce do orgulho: não suportar ser visto como pecador, como fraco, como miserável. Sejamos humildes. Reconheçamos a nossa miséria e olhemos para Nosso Senhor com paz e confiança (cf. Sl 50,19).
Digamos a Ele:
“Senhor, dai-me a graça de combater de novo. Dai-me a graça de recomeçar. Dai-me a força de lançar mão novamente dos remédios da graça. Sei que sem Vós nada posso fazer (cf. Jo 15,5). Mas conVosco, tudo posso.” (cf. Fl 4,13)
Peçamos à Nossa Rainha Santíssima que nos alcance as graças necessárias para contemplar profundamente esse mistério e seguir uma via de conversão autêntica. Que ela nos obtenha a firme decisão de fazer guerra à carne, ao mundo e ao demônio — não desesperados, mas firmes, pacificados e confiantes no auxílio da graça.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.