A Glória do Filho de Deus e o Escândalo da Cruz

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 6 de abril de 2025

O texto abaixo é a transcrição do sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum, em São Paulo/SP, em 04/04/2025, sexta-feira da IV Semana da Quaresma.


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

A profecia narrada no Terceiro Livro dos Reis, prefiguração do poder infinito de Deus, manifesta-se plenamente na história do Seu Divino Filho. Israel, naquele tempo, ainda não compreendia o que se passaria com a vida do Messias. Se tivesse atentado devidamente às profecias, teria enxergado, de modo claro e definitivo, que tudo o que Deus promete, Ele cumpre.

Nas muitas profecias veterotestamentárias sobre o Messias, já se desenhava um retrato contemplativo da extensão e da grandeza portentosa de Sua obra. Mas Israel adormeceu diante das Escrituras. Dormiu duplamente: pela ausência de mestres decididos a conduzir o povo na expectativa do Messias e pela dureza de um coração enfeitiçado, iludido por falsas promessas, falsos mestres e uma atmosfera generalizada de depravação moral e cegueira espiritual.

Quando Nosso Senhor manifesta Seu poder, trazendo de volta à vida um cadáver já em estado de putrefação, Ele apenas confirma, do alfa ao ômega, tudo o que sobre Ele fora predito — sem omitir sequer um iota.

E eis que, às portas de Sua Paixão, diante dos olhos atônitos, revela-se a grandiosidade, a magnificência da glória do Filho de Deus. Um corpo ruído por vermes é chamado para fora. Que assombro, meus filhos! Que grandeza! Que glória! A maioria de nós nunca viu um corpo nessa condição, nem deseja ver. Mas o que se manifesta ali é o fruto da autoridade infinita, da onipotência divina revelada em plenitude no Filho de Deus.

Muitos se converteram. São João relata que, naquele dia, os fariseus decidiram matá-Lo. Por quê? Porque Satanás — sim, Satanás! — era o mestre e senhor daqueles fariseus. E não sou eu quem diz isso, meus filhos. Foi o próprio Nosso Senhor, num dos últimos confrontos com eles no Templo de Jerusalém: “Satanás é vosso pai” (Jo 8,44). Pois se não fosse, eles não viveriam na mentira, no engano, na distorção das Escrituras Sagradas.

A Escritura não é um simples livro, nem uma letra morta. Ainda carregamos em nossas veias uma certa contaminação que nos faz ver a Sagrada Escritura como letra inerte. Mas essa infecção será extraída, como veneno, para dar lugar ao assentimento clássico da fé: “Creio”. Nosso Senhor diz isso a Marta, que estava abalada pelo sentimento e pela dor que vivia naquele instante. Não que fosse incrédula, mas turbada.

Também nós, muitas vezes, não compreendemos certas verdades. A Escritura não é algo do passado. É o próprio Filho de Deus que, dentro de instantes, pelas mãos de Seu sacerdote, renovará a Sua entrega — “para julgar os vivos e os mortos” (2Tm 4,1). E o critério do julgamento será este: se se creu e se se amou. Porque, como diz a Tradição, “no entardecer de nossas vidas seremos julgados pelo amor”. A fé opera pela caridade. O quanto cremos é o quanto amamos a Deus e, por Ele, ao nosso próximo. A falha na caridade é, antes, falha na fé.

Nosso Senhor sabia que Marta cria. Ele sonda os corações. Sabia também que Maria cria. Ela se lançou aos Seus pés — ato de fé admirável, cheio de piedade, digno de santa inveja. E, mesmo que envolta nas distrações do mundo e na pressa das horas — tão fugidias na nossa realidade —, Maria soube agir com piedade, ainda que apressada. Lançou-se aos pés do Salvador. Não por acaso, Deus a consumou como contemplativa. Tornou-se modelo da contemplação, imitação da nossa Rainha Santíssima.

Meus filhos, não nos escandalizemos diante das maravilhas de Deus, nem diante do escândalo da cruz, nem da nossa miséria e da capacidade que temos — e como temos! — de trair o Senhor da maneira mais repugnante. Mas, diante de tudo isso, façamos o que Ele recomendou à mulher do Poço de Jacó: tornemo-nos “verdadeiros adoradores, que adorarão o Pai em espírito e em verdade” (Jo 4,23–24) — na doutrina católica, na verdade católica de sempre, guardada, esclarecida, protegida, incolumemente, pelo Espírito Santo ao longo de vinte séculos. Somente isso.

Que Nossa Rainha Santíssima nos alcance a graça de um ato de fé mais sólido do que o que temos oferecido até aqui. E que aprendamos a nos prostrar — de corpo e alma — aos pés e aos joelhos: o único remédio para tudo.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

 

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