Sermão proferido pelo Pe. Cormack McCall, da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), na Festa da Sagrada Família de 2025, destacando a importância das famílias católicas na formação de vocações e na edificação da Igreja por meio da fidelidade e da justiça no matrimônio.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesta Festa da Sagrada Família, no início também do ano jubilar, falaremos, claro, sobre a família nesta missa. Mas, mais especificamente, por causa do tema do ano, falaremos sobre a família e a ligação dela com a vocação.
Olhando um pouco ao nosso redor, aqui no Brasil, fica bem claro que o obstáculo principal ao crescimento do apostolado da Fraternidade, e também da Igreja em geral, é a falta de vocações. Sem padres, o apostolado não continua. Por isso, vamos falar um pouco, rapidamente, sobre as duas fontes principais de onde surgem as vocações.
A solução da crise que estamos vivendo é o sacerdócio, é a vocação. De onde vem essa solução? A primeira fonte principal de uma vocação é, simplesmente, o milagre. Às vezes, um jovem ou uma jovem surge aparentemente do nada, tocado pela graça de Deus, e persevera em sua vocação para se tornar sacerdote, irmão ou freira.
Infelizmente, não podemos meditar muito nos milagres, pois eles são inteiramente obra de Deus e não temos poder para realizá-los. Portanto, vamos falar sobre o mais importante: a segunda fonte, que são as famílias católicas, e não há nenhuma dúvida sobre isso.
A verdadeira questão para nós hoje é: como as famílias podem fomentar vocações? Esta pergunta está intimamente ligada a outra: como as famílias podem promover casamentos bons e santos para seus filhos? Porque, em muitos aspectos, as respostas são as mesmas.
Alguns podem pensar imediatamente em fomentar vocações por meio da vida de oração. Embora a oração, obviamente, seja importante, eu diria que não é o elemento mais crítico. O fator mais essencial para fomentar vocações dentro da família é a perseverança nos votos matrimoniais. Vou repetir: a vida de oração é muito importante, mas não é o elemento mais crítico. O fator mais essencial para fomentar vocações dentro de suas famílias é a perseverança nos votos matrimoniais.
Lembrem-se das promessas feitas no dia dos seus casamentos: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza — não foi “na riqueza e mais riqueza”. Esses votos foram feitos para formar uma família, para permanecerem firmes, juntos, contra a loucura deste mundo, e para proporcionar aos seus filhos um exemplo bom e santo. Não há presente maior que uma criança possa receber do que o exemplo dos pais que perseveram nos votos matrimoniais por meio de provações e tribulações.
Claro, as crianças talvez não entendam isso no início. Quando são pequenas, não percebem o peso das lutas de seus pais. Mas, à medida que crescem e olham para trás, sempre reconhecem a importância desses sacrifícios. Seus filhos dirão: “Uau, meus pais aguentaram firme, perseveraram por todos aqueles desafios que eu nem notei quando era criança.” Esse exemplo os toca profundamente e deixa uma impressão muito duradoura nos seus filhos.
Uma vez, Dom Lefebvre disse a um padre — talvez um pouco aborrecido com tantos problemas matrimoniais —: “Cuidado, cuidado! Nunca cause a ruptura de um casamento. Porque o exemplo de um casamento forte e fiel faz muito mais do que percebemos.” Pense, por exemplo: os filhos têm mais contato com a vida sacerdotal ou com a vida matrimonial? Obviamente, com a vida matrimonial. O exemplo de um padre faz muito pelos seus filhos, mas o exemplo do casamento fiel e forte faz ainda mais do que vocês percebem. Ele inspira não apenas vocações para o sacerdócio e a vida religiosa, mas também prepara os filhos para suas próprias futuras vocações.
Sua perseverança como pais torna-se a base sobre a qual o futuro deles é construído. E, quando um casamento se desfaz, muitas vezes parece que tudo o mais também está quebrado. As consequências se espalham. Uma criança de um lar desfeito é sempre mais propensa a entrar em um casamento desfeito.
Por isso, sob a antiga lei da Igreja, um filho ilegítimo não podia se tornar sacerdote. Claro, a criança é inocente. O problema não está na culpa dela, mas nos hábitos formados ao observar os pais. Quando surgem as provações inevitáveis do sacerdócio — a solidão, os desafios do apostolado, os momentos difíceis —, pode acontecer como com os pais: quebrar.
Por isso digo que o verdadeiro fundamento da futura vocação de uma criança — seja para o sacerdócio, para a vida religiosa ou para o matrimônio — repousa no exemplo bom e santo da perseverança nos votos matrimoniais de seus pais nas tribulações.
Lembro-me de outro sermão de um padre amigo. Ele contou uma experiência notável: foi convidado para uma celebração extraordinária de casamento. Um casal idoso estava comemorando seu 75º aniversário de casamento! Imagina a idade deles, ainda sentados com postura e cheios de vida. Em um momento, o sacerdote sentou-se ao lado da senhora idosa e perguntou: “Senhora, posso lhe fazer uma pergunta?” Ela respondeu: “Claro, pode.” Ele perguntou: “Em todos esses anos, a senhora já pensou em se divorciar de seu marido?” Ela olhou como se tivesse levado um susto mortal, mas depois sorriu e disse: “Padre, claro que houve momentos em que quis matá-lo, mas divórcio, nunca. Nunca passou pela minha cabeça.”
Que lindo testemunho de perseverança!
Agora, se me perguntarem qual é o segundo elemento mais importante no casamento para fomentar vocações e futuros casamentos (o primeiro é a fidelidade aos votos matrimoniais), o segundo elemento é a justiça. Não estou falando da justiça relacionada a impostos, mas da justiça de cumprir o dever do estado de vida.
Cumprir o dever do estado de vida é um princípio fundamental para a santidade. Pais, vocês realmente estão cumprindo seu papel? Se entregam ao pecado, que exemplo estão dando? Um relacionamento inadequado será óbvio até para uma criança. Muitas vezes, o castigo dos pais são os pecados dos filhos.
Pais, liderem suas famílias pelo exemplo e pela virtude. E mães, lembrem-se: vocês são o coração da família. Quando a ordem na família é mantida, cria-se uma harmonia que reflete o desígnio de Deus.
Como dizia Dom Lefebvre: “A santidade da família é o berço das vocações. Destrua a família e você arrancará a Igreja pela raiz.” Não esqueçam essas palavras.
Voltem-se sempre para a Santíssima Virgem Maria e São José. Rezem para que eles os guiem na formação de uma família santa, para que seus filhos estejam abertos à vontade de Deus.
Neste ano da vocação, que nossos filhos respondam com fidelidade à santa palavra de Deus, por meio de nosso exemplo.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.