A Paixão de Cristo Refletida na História da Igreja

A Igreja Católica, sendo o Corpo Místico de Cristo, está profundamente unida ao seu Senhor, de modo que não apenas reflete, mas também reproduz em sua história os passos do próprio Cristo. Assim como Ele percorreu o caminho de sua missão terrena, desde o anúncio do Reino de Deus até a Cruz, a Igreja, ao longo dos séculos, tem repetido os passos do Redentor, vivendo o mistério de sua vida, paixão, morte e ressurreição.

Essa união indissolúvel entre Cristo e a Igreja é um mistério que transcende o tempo. No entanto, é possível identificar, na história recente da Igreja, um paralelo impressionante com os momentos finais da vida de Nosso Senhor.

Este artigo propõe uma reflexão sobre como os eventos em torno do Concílio Vaticano II podem ser entendidos como parte da paixão, morte e futura ressurreição da Igreja.

1. O Ministério de Cristo e as Infiltrações Modernistas

Durante o ministério público de Cristo, vemos o início de sua perseguição pelos líderes religiosos de sua época. As multidões que inicialmente O seguiam começam a se dispersar à medida que Suas palavras desafiavam as estruturas e expunham os erros. Da mesma forma, a Igreja, especialmente nos séculos XIX e XX, começou a enfrentar uma infiltração progressiva de ideias modernistas, contrárias à sua doutrina imutável.

Esses movimentos, embora muitas vezes mascarados de zelo pelo diálogo e atualização, começaram a minar os fundamentos da fé católica.

A perseguição a Cristo não começou com a flagelação ou a Cruz; ela foi gradativa, com tentativas de desacreditar Sua autoridade e, por fim, eliminá-Lo. De maneira semelhante, a Igreja experimentou, antes do Concílio Vaticano II, uma preparação para o ataque final: as infiltrações ideológicas, o relativismo teológico e o racionalismo começaram a corroer sua estrutura interna, preparando o terreno para o que viria.

2. A Paixão de Cristo e o Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II marcou um momento crucial na história da Igreja. Muitos acreditavam que seria uma renovação espiritual, mas ele se tornou um marco de confusão doutrinária e pastoral. Podemos identificar esse período com a paixão de Nosso Senhor. Assim como Cristo foi traído por um de seus próprios discípulos, flagelado por aqueles que deveriam ser seus guardiões e coroado de espinhos por zombadores, a Igreja durante e após o Concílio enfrentou traições internas, desorientação litúrgica e doutrinária e o desprezo do mundo que deveria evangelizar. Os documentos do Concílio, muitas vezes ambíguos, permitiram interpretações que levaram à proliferação de erros, à destruição de tradições litúrgicas e ao enfraquecimento da missão evangelizadora.

Esse período pode ser comparado ao caminho do Calvário: doloroso, humilhante, mas necessário para cumprir os desígnios divinos.

3. O Sepulcro: A Igreja no Período Pós-Concílio

Hoje, vivemos o que pode ser comparado ao período da morte de Cristo, quando Seu corpo foi colocado no sepulcro. A Igreja, ferida e aparentemente sem vida, encontra-se em uma crise sem precedentes. Muitos dos fiéis, desorientados, abandonaram a prática da fé; vocações despencaram; paróquias se esvaziam e fecham. A Tradição foi criminalizada, e os inimigos da Igreja proclamam sua vitória.

No entanto, assim como o sepulcro não foi o fim para Cristo, este momento de aparente morte não será o fim para a Igreja. É precisamente no silêncio e na escuridão do sepulcro que Deus prepara o maior dos milagres: a ressurreição.

4. A Esperança da Ressurreição

A ressurreição de Cristo não foi apenas a vitória sobre a morte, mas a restauração gloriosa de Sua humanidade e a redenção de toda a criação. Da mesma forma, a Igreja, embora pareça derrotada, vive sob a promessa de Cristo de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela.

Esse momento de crise é também um momento de purificação. Assim como o corpo de Cristo foi purificado pelo sofrimento, a Igreja será purificada das ideologias modernistas e restaurada em sua glória. A tradição será resgatada, a liturgia recuperará sua sacralidade, e a fé florescerá novamente.

Conclusão

Assim como Cristo percorreu o caminho da Cruz até a glória da ressurreição, a Igreja, Corpo Místico de Cristo, segue o mesmo percurso. O Concílio Vaticano II marcou o início de sua paixão; hoje vivemos o silêncio do sepulcro. No entanto, a promessa da ressurreição é certa. Devemos permanecer fiéis, confiantes de que, no momento designado por Deus, a Igreja renascerá, triunfante e gloriosa, para continuar sua missão até a consumação dos séculos.

Este é o tempo de perseverar, de manter viva a chama da fé e de aguardar, com esperança, o dia em que a luz da ressurreição dissipará as trevas da crise. Como dizia Santo Agostinho, “a Igreja vacila, mas não cai; é agitada, mas não afunda, porque é sustentada por Cristo”.

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