A Serpente Mostrou as Presas: o Ataque à Virgem Maria e o Dever de Resistir
O texto abaixo é a transcrição adaptada dum sermão proferido pelo Padre Wander de Jesus Maia, em 09/11/2025, Festa da Dedicação da Brasília de São João de Latrão, na Capela Coração Dulcíssimo de Maria, em São Paulo/SP.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
Queridos filhos, caros fiéis,
Hoje celebramos a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão — a primeira e mais importante das quatro basílicas patriarcais de Roma, consagrada ao nosso Divino Salvador. Construída no século IV, após o Édito de Milão de 313, foi o sinal visível da vitória da Cruz sobre o império pagão. Por isso, Teodósio, no Édito de Tessalônica de 380, declarou a fé católica religião oficial do Império: reconheceu que a verdadeira paz não está no poder dos homens, mas no reinado de Cristo (cf. Jo 18,36), a quem até o imperador deve se submeter como súdito.
Imaginem: o senhor do mundo prostrado diante do Rei eterno!
No frontispício da Basílica lê-se: “Ao Santíssimo Salvador, dedicado.” Só essa frase já bastaria para resumir o mistério da Igreja — um templo consagrado unicamente a Deus, sinal da Sua presença no meio dos homens (cf. 1Cor 3,16-17). E como todo altar consagrado, ele é inviolável: se for profanado, deve ser destruído e reerguido, nunca simplesmente limpo (cf. Ex 20,25; Nm 19,2).
Essa lei litúrgica é símbolo da santidade da Igreja. Quando o altar é maculado, a casa de Deus se purifica com sacrifício. Foi o que fez Bento XVI na Capela Clementina, junto ao túmulo de São Pedro, mandando demolir o altar que havia sido violado por uma missa sacrílega. Um gesto de expiação silenciosa — o reconhecimento de que o sagrado não se negocia (cf. Jo 2,17: “O zelo por tua casa me consome”).
Desde os primeiros séculos, São Clemente de Roma — quarto Papa, discípulo de São João Evangelista — testemunhava essa fé inabalável. Ele é prova viva de que Pedro governava a Igreja (cf. Mt 16,18-19) e de que a sucessão apostólica era, desde o início, um dado de fé (Conc. Vaticano I, Const. Dogm. Pastor Aeternus, 1870). Assim, a Basílica de Latrão se tornou o símbolo visível da vitória da Igreja sobre o império e sobre o paganismo. Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat!
Mas hoje, filhos, a batalha já não está fora: entrou no coração da própria Igreja (cf. At 20,29-30). O inimigo se disfarça de luz (cf. 2Cor 11,14), e o veneno do erro corre pelos vasos sagrados. Muitos, conhecendo a verdade, recuam por medo ou conveniência (cf. Jo 12,42-43).
Entretanto, há quem permaneça firme. A Fraternidade Sacerdotal São Pio X nunca recuou. “Para nós, nada muda”, escreveu o Superior Geral aos seus padres — ecoando o espírito de Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, que mantiveram a fé quando quase todos vacilaram (Sermão das Sagrações, 30/06/1988). É a voz das águias. O combate se intensifica, mas a fidelidade exige coragem.
E qual é o centro dessa nova batalha? A Virgem Maria. O ódio infernal agora se volta contra Ela, tentando negar os três grandes privilégios ainda não definidos: a Sua Corredenção, a Sua Mediação Universal e a Sua Maternidade Espiritual. Juntos, completam os sete privilégios revelados pela Tradição (cf. Leão XIII, Enc. Adiutricem Populi, 1895; Pio XII, Enc. Mystici Corporis, 1943).
Os modernistas, incapazes de revogar os dogmas já proclamados, procuram impedir a proclamação dos que faltam. Distorcem até o Calvário: dizem que, como “a fé da Igreja sobreviveu apenas em Maria”, isso provaria que a Igreja pode viver sem o colégio apostólico. Mentira! O apóstolo João estava lá — e nele estava toda a Tradição viva (cf. Jo 19,26-27). Cristo lhe disse: “Filho, eis aí tua Mãe.” Foi a entrega da Igreja nascente à Maternidade espiritual da Virgem.
Quem não a reconhece como Mãe, Rainha e Senhora, não terá parte com Cristo (cf. Lc 1,43; Ap 12,1).
Mas não há fidelidade sem separação. Quem permanece na nova religião acende uma vela a Deus e outra ao demônio (cf. Mt 6,24). O Concílio Vaticano II ensinou que bastava mudar o modo de rezar para mudar o modo de crer. Tiraram a liturgia católica — e com ela, tiraram a fé católica (cf. Lex orandi, lex credendi).
Hoje, muitos já não têm o Credo dos Apóstolos, nem o ardor de Santo Agostinho, nem a clareza de São Tomás, nem o espírito de sacrifício de Padre Pio. O altar, o dogma e a fé se dissolveram. Assim, o combate volta-se contra o Corpo Místico de Cristo e contra a Mulher vestida de Sol (Ap 12,1-6).
A nova religião é a Babilônia apocalíptica, embriagada com o sangue dos santos (Ap 17,5-6). E o cálice que ela oferece é o da luxúria e da blasfêmia.
Mas a tempestade que virá sobre a Fraternidade não deve nos assustar. Ela será purificação (cf. 1Pd 4,12-13). Comparai: o clero modernista — inflado de títulos, mas vazio de fé — e o clero da Tradição — pobre, escondido, mas cheio de virtude. Padres santos, silenciosos, obedientes à verdade, como o Padre Álvaro Calderón, que com setenta anos ainda diz: “Estou velho, mas se o senhor mandar, eu obedeço.” Eis a verdadeira obediência (cf. Fp 2,8).
Do outro lado, cadáveres espirituais, como Nossa Senhora já havia dito em Fátima.
O mundo modernista é o Egito da alma (cf. Ap 11,8); nós, libertos pela Verdade, caminhamos para a Pátria do Alto (cf. Hb 13,14). Cristo é Rei, Maria é Rainha, e nós não recuaremos.
Ela mesma, em Guadalupe, revelou o seu nome: “Eu sou aquela que esmaga a serpente com os pés” (cf. Gn 3,15).
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
