O Diabo “dá o tapa e esconde a mão”

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 10 de novembro de 2025

O texto abaixo é a transcrição adaptada dum sermão proferido pelo Padre Maurício Inácio Marino de Souza, na Capela Coração Dulcíssimo de Maria, São Paulo/SP, em 02/11/2025, XXI Domingo Após Pentecostes.


Louvados sejam os nomes de Jesus e Maria. Para sempre sejam louvados.

Seja pela vexação diabólica, pela infestação, pela insinuação ou pelas tentações de ordem temporal, espiritual ou mental, o diabo vem nos tentar de acordo com as permissões que Deus lhe concede, para que, através delas, santifiquemos e divinizemos as nossas obras, e assim mereçamos o Céu.

A nossa batalha — quando enfrentamos crises diante dos irmãos lá fora, os que não creem na verdadeira fé, ou mesmo entre nós — não é uma luta pessoal.

O diabo “dá o tapa e esconde a mão”. Ele provoca e, depois, tira a cauda para mostrar que não é cúmplice de nossos atos. Mas somos nós que escolhemos, por pensamentos, palavras, atos e omissões, aquilo que fazemos. É pela nossa vontade — ainda que influenciada pelo intelecto e pela imaginação — que decidimos o que executar diante das sugestões do inimigo.

Santo Antão do Deserto dizia: sem tentação, ninguém se salva. Deus permite a tentação para que sejamos forjados e amadureçamos segundo o Seu coração, no modelo do próprio Cristo, que nos deu a vida no Calvário. Essa santificação passa também por dar a própria cabeça — ou seja, oferecer-se — pelo próximo.

Por isso, a parábola dos servos, proposta hoje, chama-nos à atenção para aquilo que o grande Papa Pio XII ensinou na encíclica Mediator Dei: nosso papel não é julgar ou destruir uns aos outros. Isso é fácil. O juízo temerário é uma das coisas mais comuns na face da terra.

Numa formação que dei, comentei que talvez o juízo temerário nem seja o maior problema espiritual de nosso tempo. O maior problema, hoje, é não aceitarmos a alegria e a vitória dos outros. Não suportamos ver o outro prosperar, ser bem-sucedido, ter êxito. Parece que, se ele não estiver em nosso mesmo patamar — e, pior ainda, se estiver acima — já nasce em nós um incômodo, uma revolta interior. Se o outro está no mesmo nível, tudo bem. Mas se é melhor, então, “está queimado”, “já vai pro buraco”, “já vai pro fogo”. E, se não há motivo real para criticar, inventa-se um: procura-se um defeito moral, físico, qualquer coisa.

Lembro-me duma paróquia onde havia uma senhora tomada de inveja. Ela queria que fossem usados, numa Missa em que ela estaria presente, os vasos sagrados que ela havia doado. O padre, com bom senso, não o fez. Ela se irritou, e eu lhe disse:

“Mas minha senhora, esses objetos já não são mais seus. A senhora os doou à paróquia. Se o padre quiser trocá-los ou até descartá-los, ele pode. Já não lhe pertencem.”

A mulher, inconformada, passou a celebração inteira resmungando. Esse episódio mostra como a “grama do vizinho” parece sempre mais verde, e como a inveja é uma azia espiritual que corrói a alma. E pode ser causa de condenação, pois somos devedores — uns de dez mil talentos, outros de cem — mas todos devendo.

Ninguém está limpo. Todos “temos débitos no cartório” de Deus. É preciso recordar a bondade e a justiça divinas que nos alcançaram na cruz de Cristo. Claro, ainda não fruímos plenamente dessa glória: nós a bebemos conforme os nossos limites e conforme a providência de Deus. Participamos dela, de modo especial, na Santa Missa, que é como uma antecipação do Céu.

Como muitas vezes não a sentimos na pele — como querem os carismáticos, que buscam emoção —, temos de lembrar que a fé não é sentimento. Fé é consentimento, é adesão à vontade de Deus.

Esse é o grande segredo: a fé não sente, a fé consente.

Se fizermos um sincero exame de consciência diante do Senhor, não teremos tempo para vigiar se os outros estão melhores ou piores. E, se estiverem piores, rezemos mais por eles. Se estiverem melhores, esforcemo-nos para imitá-los.

Em todo caso, há sempre motivo para mudar de conduta e buscar a santidade.

Louvados sejam os nomes de Jesus e Maria. Para sempre sejam louvados.

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