A Mulher Católica, o Trabalho e a Vontade de Deus

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 16 de setembro de 2025

Introdução

Muitas mães católicas desejam, com toda razão, dedicar-se exclusivamente ao lar e aos filhos. No entanto, a vida concreta traz exigências que nem sempre permitem realizar esse ideal. Surge então a dúvida: “Se preciso trabalhar fora, estarei falhando como mulher católica? Posso me salvar assim?”

À luz da Tradição, a resposta é simples: Deus santifica cada pessoa no estado de vida em que a coloca, pedindo fidelidade no presente e não em sonhos inatingíveis.

1. A Providência não engana

Deus não coloca um filho (ou uma filha) numa situação sem saída. Se uma mãe precisa trabalhar fora para ajudar a sustentar a família, esse não é um sinal de condenação, mas um convite à santidade dentro dessa condição.

A cruz que Ele nos entrega sempre é caminho de graça, de modo que não seria correto fugir dela apenas para buscar outra de que gostamos mais.

2. O equilíbrio da devoção

São Francisco de Sales, na Filoteia, ensina:

“A devoção deve ser praticada de modo a se adequar às forças, às ocupações e aos deveres de cada um. […] Seria ridículo desejar que o bispo vivesse na solidão como os cartuxos, que os religiosos se ocupassem dos negócios como os bispos, que o nobre se comportasse como o artesão e o artesão como o príncipe” (Filoteia, Parte I, cap. III).

Exigir práticas incompatíveis com a própria realidade não é virtude, mas peso insuportável. A verdadeira devoção nasce da adaptação ao próprio estado de vida, e do cumprimento fiel do mesmo.

3. Qualidade, não quantidade

A perfeição não se mede por listas de tarefas impossíveis (perfeição “quantitativa”), mas pelo amor com que cumprimos o que está ao nosso alcance (perfeição “qualitativa”). Santo Tomás recorda que a virtude é “o meio ótimo em relação a nós”: o máximo possível no lugar onde estamos, nem mais nem menos.

Assim, não importa se conseguimos cumprir todos os tens dum checklist imaginário e irrealizável, mas se damos a Deus o melhor possível dentro de nossas circunstâncias.

4. O essencial para a salvação

O que leva ao Céu não é a profissão exercida, mas viver em estado de graça:

  • obedecer aos mandamentos,
  • receber os sacramentos,
  • rezar incessantemente,
  • ser fiel no dever cotidiano.

É isso o que Nosso Senhor pedirá no Juízo. “Quem perseverar até o fim será salvo” (Mt 24,13).

5. O ideal e a realidade

O ideal do lar centrado na mãe permanecerá para sempre válido, nobre e necessário. Se a família pode viver essa realidade, deve fazê-lo com alegria. Mas, se no momento isso não for possível, a necessidade do trabalho externo, abraçada com fé, é também ocasião de santidade.

O que mais importa é carregar a cruz presente (não a imaginária) com confiança e amor.

6. Inspirar-se nos santos

Os santos são modelos, e não fantasias a serem imitadas literalmente. Cada um viveu em seu tempo, com suas circunstâncias próprias.

  • Um pai de família pode aprender com São Luís IX sem pretender ser um rei medieval.
  • Uma mãe pode inspirar-se em Zélia Martin sem pretender reproduzir sua vida no século XIX.
  • Um sacerdote pode venerar o Cura d’Ars sem sentir obrigação de copiar cada penitência dele.

Deus não pede cópias impossíveis, mas fidelidade concreta. A santidade é realismo sobrenatural: aprender com os santos, mas viver o Evangelho dentro da própria vida e limites.

Conclusão

A mulher que trabalha fora por necessidade não é uma fraude, nem menos católica. Ela é chamada a ser santa exatamente ali, onde a Providência a colocou.

Deus não exige o que está fora do nosso alcance. Ele pede apenas que sejamos fiéis hoje, no concreto, no possível. É nesse caminho simples e real que a mulher católica encontra a sua santificação — e a porta do Céu.

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