Confissão Geral: Porta da Graça e da Paz

O texto abaixo é uma transcrição adaptada da catequese do Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, ministrada em 7 de setembro de 2025, 13º Domingo Depois do Pentecostes, na Capela Coração Dulcíssimo de Maria.
Meus filhos, retomando os sacramentos que já estudamos, entramos agora na preparação mais direta para a Confissão Geral.
Quero recordar as palavras de São Francisco de Sales sobre a Confissão Geral: ela é um marco decisivo na vida de quem abraça a Tradição, pois permite ordenar a consciência, dissipar escrúpulos e selar a passagem do espírito do mundo para o reinado de Cristo.
Quem chegou à Tradição agora, com tantas lacunas e confusões, deve encarar esse ato com seriedade.
A Confissão Geral não é uma conversa com o padre, muito menos um relato biográfico. Não é o momento de narrar onde nasceu ou o que fazia na infância. Trata-se de um exame objetivo da vida à luz dos Dez Mandamentos, já previamente escrito e organizado, com arrependimento sincero e propósito de emenda. Durante a confissão, não se deve interromper o padre, nem incorrer na loquacidade; cabe ao sacerdote, com ciência teológica e prudência pastoral, inquirir o que e quando necessário. O tempo médio de uma confissão geral, quando bem preparada, é de vinte minutos. Organizaremos em turnos, e não transformaremos o confessionário em local de conversa demorada.
Entre os pecados que mais costumam ser omitidos está a contracepção. Em muitos ambientes, silencia-se sobre esse tema, por medo de se assustar ou de perder fiéis. Isso não é caridade, mas negligência. A contracepção é pecado grave e deve ser confessada.
Outro ponto grave é a esterilização artificial voluntária – vasectomia e laqueadura. Muitos pensam que basta arrepender-se, mas é preciso reparar, e a reparação inclui submeter-se à reversão. Enquanto não se reverte, a vida conjugal deverá ser vivida na continência, para se evitar sacrilégios. O confessor deverá orientar com prudência, mas nunca legitimar uma vida conjugal normal sem reversão, pois isso levaria ao abandono da obrigação moral. A pena temporal precisa ser enfrentada, sim; e se não o for nesta vida, sê-lo-á no Purgatório.
Também sobre a castidade é preciso clareza. Não basta repetir o mantra de que “temos que ser castos”: é preciso explicar o que significa a castidade matrimonial. Ela inclui a abertura à vida, a pureza de intenção, o respeito mútuo e a ausência de vulgaridade no trato. O lar cristão deve ser marcado por bons modos, “por favor” e “obrigado”, por firmeza varonil sem grosserias, e por doçura feminina sem loquacidade.
A paz doméstica nasce da virtude, não do sentimentalismo.
São Luís Maria Grignion de Montfort propõe os Doze Dias de Desapego ao Espírito do Mundo. É esta a imagem que devemos considerar: à esquerda, o príncipe das trevas com seus vassalos — ira, preguiça, intemperança, orgulho, inveja, impureza e avareza. À direita, Cristo crucificado, oferecendo-Se ao Pai e convidando-nos à liberdade dos filhos de Deus. A Confissão Geral sela a transposição de um campo ao outro. E lembrem-se: a luxúria patrocina muitos outros vícios; a ira, em geral, é o seu primeiro fruto.
Exemplos históricos ilustram como a graça transforma. Santo Inácio de Loyola, de temperamento forte, soldado e nobre, foi purificado pela graça quando se entregou à Virgem e abraçou o estandarte de Cristo. A graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa.
Quanto às devoções, teremos em primeiro lugar a Novena das Sete Dores, proposta como oração permanente de cinco minutos diários, pedindo a conformidade ao Imaculado e Doloroso Coração de Maria. Setembro é mês de São Pio X, da Santa Cruz e da Virgem Dolorosa, tempo de penitência intensificada nas Têmporas.
Outra devoção é o Detente (“O Coração de Jesus Está Comigo”). Seu valor é grande, mas deve ser usado interiormente, sem exibições pietistas. Recordemos a Vendéia, quando soldados católicos costuravam o detente em suas roupas e foram preservados em combate.
Ainda, o Escapulário do Carmo: muitos o receberam no passado sem garantia de fórmula válida. Por prudência, convém receber nova imposição. O uso deve ser contínuo, acompanhado do Rosário diário e das penitências próprias, como os sete Pai-Nossos e sete Ave-Marias de cada dia.
Para que vocês tenham uma ideia, o exame de consciência diário dos padres, além dos roteiros propostos, encontra-se de modo perfeito no Breviário, nas Completas. Ao rezar o Pai-Nosso em silêncio, cada petição é aplicada ao dia vivido: “santificado seja o Vosso nome”, onde O honrei ou ofendi; “venha a nós o Vosso reino”, se fiz Cristo reinar em meus atos; “mas livrai-nos do mal”, um propósito concreto para amanhã.
É a oração que Nosso Senhor mesmo nos ensinou, elevada a exame diário.
Do ponto de vista prático, serão fornecidos materiais: o exame de consciência preparado pela Fraternidade, um boletim mensal com resposta breve a erros correntes e a novena impressa. Para estudo em casa, leiam os capítulos 19 a 21 da Filotéia de São Francisco de Sales, da edição de bolso (páginas 98 a 109). Depois:
- Redijam por escrito o exame de consciência (sem telas);
- Iniciem a novena;
- Assumam o Rosário diário;
- Pratiquem as penitências das Têmporas;
- Usem devidamente o escapulário;
- Cultivem a caridade doméstica.
Algumas perguntas práticas que se fazem:
- Devo contar toda a minha vida na Confissão Geral?: Não, seja objetivo e sincero, e deixe o confessor conduzir;
- Arrependi-me de uma esterilização, e agora?: Confesse, arrependa-se, busque a reversão e, até lá, viva em continência;
- Sacramentais resolvem sem conversão?: Não. Eles são auxílios potentes, mas exigem fé e penitência.
A Confissão Geral não é rito de ansiedade, mas ato de confiança: entregar-se ao Coração de Jesus pelas mãos de Maria, renunciando ao espírito do mundo e escolhendo o estandarte de Cristo. Daí brotam paz, ordem e fecundidade.
Que a nossa palavra diária seja: Viva Jesus!