Família, Vocação e a Ordem Divina

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 31 de agosto de 2025

O texto abaixo é a transcrição duma catequese ministrada pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, em 31/08/2025, em São Paulo/SP.


 

Queridos fiéis,

Nesta catequese, somos convidados a refletir sobre o caminho espiritual que o Senhor nos oferece e a importância da vida de santidade segundo o estado de cada um. O ponto de partida é a via purgativa, primeira etapa da vida interior. Quem entra por essa via começa a odiar de coração o pecado venial deliberado, e a desejar sinceramente libertar-se de tudo o que separa de Deus (Sl 50; Hb 12,4). Se ainda não sentimos esse santo ódio, peçamos hoje a graça de que Ele nos faça entrar o quanto antes nesse combate.

A primeira nota da via purgativa é o desapego voluntário ao pecado e o início de um apetite irascível contra ele. Quando a alma começa a experimentar esse ódio ao mal e amor à vontade de Deus, pode-se dizer que os começos da vida espiritual estão presentes (Rm 6,11-13; Mt 26,41).

O pecado original nos recorda a gravidade da nossa condição. Eva foi seduzida pela astúcia da serpente, mas Adão falhou em sua responsabilidade de guardar o Éden e proteger sua esposa (Gn 3). A Igreja sempre recordou que a culpa recai principalmente sobre ele, cabeça da humanidade. Esse relato bíblico nos mostra o peso da responsabilidade que o homem tem diante de Deus e da família. Adão deveria ter resistido e advertido; sua omissão abriu as portas para a ruína. Aqui aprendemos que toda autoridade é dom recebido para guardar, servir e proteger, e não para comodidade própria (Ef 5,25-28).

A inteligência humana, criada para a Verdade, degenera quando não é iluminada pela graça. Sem a luz divina, ela se torna caricatura de si mesma, terreno fértil para gnoses e ideologias. Os chamados “gênios” humanos que não foram formados pela Verdade acabaram colocando sua inteligência a serviço do maligno. O verdadeiro gênio cristão, Santo Tomás de Aquino, dominava todo o Novo Testamento em latim, citou Santo Agostinho milhares de vezes em sua Suma Teológica, e ainda assim, diante de Cristo, declarou: “Tudo o que escrevi é palha”. A ciência teológica autêntica deve conduzir à humildade e à caridade (1Cor 13).

É necessário cuidado contra espiritualismos falsos e curiosidades místicas. A vida cristã não se edifica sobre supostas visões, mas sobre a oração, os sacramentos e a vida virtuosa. O caminho seguro é a fidelidade à Igreja e à graça, como ensinam os santos diretores espirituais, de São Francisco de Sales a Santo Afonso Maria de Ligório (Hb 13,17; 1Tm 3,15).

Cada estado de vida é chamado à santidade. Pais e mães têm missão sublime de formar os filhos na fé; sacerdotes, de viver e transmitir a graça do altar; religiosos, de testemunhar a radicalidade evangélica. Não há uniformidade, mas fidelidade concreta ao que Deus pede (1Cor 7,17). Pais, educai vossos filhos com firmeza e amor, formando-os para a vida adulta e cristã. Jovens, pedi luz a Deus para discernir vossa vocação e coragem para corresponder (Mt 9,37-38).

O Verbo eterno, ao encarnar-se no seio da Virgem Maria, tornou-se imediatamente o Sumo e Eterno Sacerdote (Hb 5,5-10). É próprio da natureza humana do Filho ser sacerdote: Ele uniu em Si o Sacerdote, a Vítima e o Altar (Hb 9,11-14). Essa realidade supera a Antiga Aliança, onde o sacerdote, a vítima e o altar eram distintos. Em Cristo tudo se unifica. Os padres participam desse sacerdócio, e precisam viver primeiro aquilo que ensinam (Jo 13,15). Sem vida interior, o ministério torna-se fachada. Eis porque rezamos pela santificação do clero.

A prática espiritual é indispensável: confissão frequente, comunhão bem preparada (1Cor 11,28), oração diária (principalmente o Terço), penitência segundo o estado de vida, leitura espiritual ordenada e obras de caridade (Cl 3,23-24). Sem vida sobrenatural, a fé se torna estéril.

A história mostra também como o inimigo buscou corromper a ordem natural: a chamada “Revolução Industrial” arrancou a mulher do lar; a maçonaria e o cabalismo subverteram o código da ordem temporal; a mentalidade moderna promoveu falsas emancipações que só destruíram a família. Mas a resposta cristã é clara: restaurar a ordem divina nos lares, formar homens viris e mulheres santas, e transmitir às futuras gerações a graça da vocação. As famílias devem criar um ambiente de sacralidade e reverência, ensinar a vida de oração e apresentar aos filhos as biografias dos santos sacerdotes e santos pais de família.

Enfim, a vida cristã é fidelidade concreta: odiar o pecado, amar a santidade, formar famílias católicas, rezar pelas vocações e sustentar espiritualmente e materialmente a nossa capela. Este caminho deve ser vivido com alegria, como filhos do Pai das misericórdias.

Que a Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe e Rainha, guarde nossos sacerdotes, santifique nossas famílias e nos conduza ao Coração de Seu Filho. Rezemos com fé: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Para sempre seja louvado.

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