A Consagração do Brasil por Bolsonaro Teve Valor Espiritual?

Introdução
No dia 24 de outubro de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro realizou uma consagração do Brasil a Nossa Senhora Aparecida, na capela do Palácio da Alvorada.
A oração foi longa, bem escrita, com linguagem religiosa e pedidos de proteção, mas há uma pergunta: aquilo teve valor sobrenatural? Podemos ter certeza de que Deus e Nossa Senhora aceitaram esse ato como válido?
A resposta, à luz da doutrina católica tradicional, é clara: não.
O Que É Uma Verdadeira Consagração?
Consagrar algo a Deus ou à Virgem Maria não é apenas fazer uma oração bonita. Para que uma consagração seja válida, é preciso:
- Estar em estado de graça — ou seja, sem pecado mortal.
- Ter fé católica verdadeira e íntegra — não misturada com outras crenças.
- Fazer o ato com humildade, arrependimento e intenção de conversão.
- Ter autoridade legítima sobre aquilo que se consagra.
Sem isso, o ato de consagração pode até comover quem assiste, mas não necessário produz o exato efeito a que se propõe.
Bolsonaro Atendeu a Essas Condições?
Infelizmente, não. Bolsonaro não vive como católico praticante. Vive em situação objetiva de adultério público, frequenta ativamente cultos heréticos (protestantes), e até mesmo já foi “rebatizado” por um pastor protestante — o que, para a fé católica, é um erro grave, pois o batismo verdadeiro já havia sido recebido na infância.
Infelizmente, ele nunca fez um gesto público que sequer denotasse abjuração, ou arrependimento, ou conversão. Não há nenhum sinal de reparação ou mudança de vida. A consagração foi um ato isolado, sem envolvimento da hierarquia da Igreja, sem orientação da Igreja. Sem fruto espiritual.
Sim: o ato teve valor simbólico, político e emotivo, mas não necessariamente espiritual nem sobrenatural.
Mas Não É Melhor Que Nada?
Essa é uma pergunta honesta. Muitas pessoas pensam que “pelo menos ele tentou”, “pelo menos ele fez uma coisa boa” etc. Mas a fé católica ensina que a caridade só opera na verdade. Como diz São Paulo: “Mesmo que eu entregue meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, isso de nada me aproveita.” (1Cor 13,3)
A principal operação da caridade divina é a graça santificante, que produz a vida em comunhão com Deus. Se a pessoa está espiritualmente morta pelo pecado, mesmo os atos mais bonitos e religiosos não têm valor sobrenatural. Deus pode, sim, usar isso para tocar os corações de outros, a partir de graças atuais que movam à conversão, claro. Mas isso é da liberalidade divina. O gesto da consagração, em si, é indigno, pois a ausência do estado de graça implica, necessariamente, no desprovimento de méritos.
Diferente seria se o ato de consagração tivesse natureza e conotação explicitamente penitencial. Aí sim poder-se-ia pensar melhor sobre. O caso dos ninivitas mostra isso. Não estavam no favor de Deus, mas a jornada penitencial encabeçada pelo rei, e seguida pelos súditos, por estar imbuída ao menos de atrição (arrependimento imperfeito), foi bem recebida por Deus.
Pelos motivos já expostos no tópico anterior, este definitivamente não foi o caso na “consagração” feita por Bolsonaro.
O Exemplo da Rússia e Fátima
Para aprofundar, consideremos o seguinte: Nossa Senhora pediu em Fátima que a Rússia fosse consagrada ao Seu Imaculado Coração. Deu instruções bem claras a respeito: o Papa deveria fazer essa consagração, em união com todos os bispos do mundo, nomeando a Rússia de forma explícita.
Até hoje, nenhuma consagração cumpriu essas condições por completo. Nem a feita por Pio XII (que era um homem irrepreensível), nem a feita por João Paulo II e nem a feita por Francisco. Não à toa, os frutos prometidos — conversão da Rússia e paz no mundo — até hoje não vieram.
Ou seja: se até os Papas não conseguiram efeitos espirituais de uma consagração nacional à Santíssima Virgem, como esperar que um presidente sem vida católica pôde consagrar validamente o Brasil naquela ocasião?
Conclusão
A oração de Bolsonaro foi bonita? Sim. Teve boa intenção? Talvez. Temos certeza de que foi uma consagração válida aos olhos de Deus e de Nossa Senhora? Não.
Consagrar um país é coisa séria. Requer santidade, fé verdadeira, obediência à Igreja e vida de conversão. Nossa Senhora não se deixa enganar por palavras bem escritas quando são ditas por alguém que a contradiz nos atos.
Mais do que orações públicas de políticos, o Brasil precisa de fiéis humildes, católicos autênticos, famílias que rezem o Rosário, que vivam em estado de graça, que frequentem a Missa com devoção. Esses, sim, tocam o coração da Mãe de Deus.
E quando Ela quiser consagrar esta nação, usará instrumentos eficazes.