Maria aos Pés da Cruz: O Mistério de Quem Ofereceu o Filho

Introdução
Este artigo tem como objetivo esclarecer uma dúvida comum, mas profundamente rica: é correto falar em “sacerdócio de Maria”?
A expressão, ou construção de raciocínio, usada por autores como o Pe. Émile Neubert, pode gerar confusão. Por isso, vamos compreender cuidadosamente o que significa, distinguindo os sentidos amplos e estritos do termo “sacerdócio” e iluminando o papel absolutamente singular da Virgem Maria no plano da salvação.
1. Quem foi o Pe. Emile Neubert?
Pe. Emile Neubert foi um sacerdote católico exemplar, profundamente mariano e teologicamente ortodoxo. Não há qualquer indício de que tenha aderido ao modernismo. No entanto, seus escritos foram influenciados pelo estilo espiritual e literário de sua época (sobretudo a França), que favorecia uma linguagem mais emotiva.
Isso pode gerar certa ambiguidade na forma de expressão, mas não compromete a ortodoxia de seu conteúdo, desde que bem interpretado.
2. O que é o sacerdócio em sentido amplo?
Em sentido amplo, todo batizado participa dum sacerdócio , conhecido como “sacerdócio comum dos fiéis”. Trata-se da capacidade (e também da responsabilidade) de oferecer a Deus preces, sacrifícios espirituais, atos de intercessão e de amor ao próximo. Quando uma mãe abençoa seu filho, quando rezamos uns pelos outros, quando intercedemos diante de Deus, estamos exercendo um ato sacerdotal, em sentido amplo.
Quanto mais santa for a alma, mais eficaz será essa intercessão.
3. O que é o sacerdócio em sentido estrito?
Em sentido estrito, o sacerdócio é o ministério ordenado conferido por Cristo através do sacramento da Ordem. Ele é ontologicamente distinto do sacerdócio comum. Confere ao ministro um poder espiritual que não depende de seus méritos pessoais: trata-se de um dom conferido e exercido ex opere operato.
Desde a instituição do sacerdócio ministerial na Última Ceia, a Igreja sempre reconheceu que esse ministério foi confiado exclusivamente aos homens, e não por acaso: nem mesmo a Virgem Maria esteve presente nesse momento.
4. Mesmo nunca ordenada, Maria também foi a Oferente do Santo Sacrifício
Contudo, a Santíssima Virgem exerceu um papel incomparável na história da salvação: Ela ofereceu Seu Filho na Cruz. Enquanto os padres ordenados oferecem sacramentalmente o mesmo Sacrifício, Maria participou do sacrifício “original”, o cruento, oferecendo com dor e amor, por livre consentimento, a Divina Vítima, que era Seu Filho.
Essa singularidade de Maria foi revelada desde a Anunciação, quando o Arcanjo Gabriel Lhe disse: “O Espírito Santo descerá sobre Ti, e a força do Altíssimo Te envolverá com a Sua sombra; por isso o Ente Santo que nascer de Ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). Nesse momento, Maria se relaciona diretamente com as três Pessoas da Santíssima Trindade: o Pai (o Altíssimo), o Filho (que nela se encarna) e o Espírito Santo (que vem sobre Ela).
Nenhuma outra criatura jamais esteve tão unida a Deus.
5. O sangue de Cristo era o sangue de Maria
Jesus foi concebido sem a inseminação por um pai biológico. Todo o Seu Corpo, todo o Seu Sangue, veio de Maria. Assim, ao derramar Seu Divino Sangue na Cruz, era também o sangue d’Ela, por óbvio, que era oferecido.
Quem oferece a vítima em sacrifício exerce, por definição, uma ação sacerdotal. A principal, dentre todas as existentes. Por isso, embora não ordenada, Maria exerceu um papel sacerdotal sem paralelo: Ela ofereceu Cristo ao Pai, e com Ele ofereceu a Si Mesma.
6. Separar Cristo de Maria é erro grave
Há quem pense que exaltar Maria é tirar a glória de Cristo. Nada mais equivocado. Tudo o que Maria é, é por causa de Cristo. Mas Deus quis que Ela fosse o caminho pelo qual Ele viesse ao mundo. E quem quer chegar a Ele deve seguir esse mesmo caminho.
Ele podia salvar sem Ela? Sim. Mas potuit, decuit, ergo fecit: podia, convinha, por isso o fez. Ele o quis. E o que Deus faz, porquanto perfeito, não se desfaz.
7. Mulheres em papéis de liderança: exceções providenciais
A História da Salvação registra casos extraordinários de mulheres exercendo liderança providencial: a profetisa Débora, Jael, Santa Joana d’Arc. Esses casos, porém, foram sinais excepcionais em momentos de necessidade. A regra ordinária, querida por Deus, foi outra: Cristo instituiu apenas homens no sacerdócio ministerial, com a plena consciência da dignidade de Sua Mãe.
8. Conclusão: o que Neubert quis dizer
Ex positis, quando o Pe. Neubert fala em “sacerdócio de Maria”, ele não está propondo que mulheres recebam a ordenação sacerdotal. Ele está reconhecendo uma verdade belíssima: que a Santíssima Virgem participou de modo singular, perfeito e irrepetível do Sacrifício de Cristo. Ela é Mãe, Co-Redentora, Medianeira.
Tudo n’Ela é referência a Ele. E tudo n’Ele passou por Ela.
Maria não é um detalhe: é parte essencial do plano da salvação. Quem ama Cristo, ama Maria. Quem recorre a Ela, encontra o Filho. Ela é a escada entre o Céu e a terra.
Que esta reflexão ajude você a amar ainda mais Aquela que é Mãe de Deus e Nossa Mãe.