O Centro Dom Bosco, o apostolado leigo e a FSSPX: o que realmente está acontecendo?

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 19 de junho de 2025

Introdução

O Centro Dom Bosco (CDB) vem sendo acusado de supostamente romper com a Igreja Católica. O motivo? Sua aproximação com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) — o que tem gerado acusações de “cisma”, “rebelião” e “formação de igreja paralela”.

Mas será que os fatos sustentam essas alegações?

O apostolado leigo sempre existiu — e é legítimo

Desde os primeiros séculos do catolicismo, os leigos tiveram papel ativo na defesa da fé. Não foram poucos os casos em que leigos instruídos — e muitas vezes perseguidos — foram instrumentos de preservação da ortodoxia.

Vale destacar que o Código de Direito Canônico atual, tão defendido pelos detratores do CDB, garante ao leigo o direito de fundar apostolados:

“Os leigos, como participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, têm obrigação e o direito de trabalhar para que o anúncio divino da salvação seja conhecido e acolhido por todos.” (Cânon 225, §1)

“Os fiéis têm o direito, e até o dever, de manifestar aos sagrados pastores a sua opinião sobre o que toca ao bem da Igreja.” (Cânon 212, §3)

Vê-se, portanto, que o Centro Dom Bosco nada mais faz do que exercer um legítimo direito canônico, reconhecido inclusive pela hierarquia católica pós-conciliar.

Apoiar a FSSPX não é fundar uma nova igreja

A acusação de que o CDB estaria tentando “fundar uma nova igreja” ao apoiar a FSSPX não tem fundamento teológico ou jurídico. A FSSPX celebra missas válidas e lícitas, ministrando sacramentos reconhecidos pela Santa Sé sem nunca ter sido declarada cismática.

Mesmo o Papa Francisco, por meio da carta do Pontifício Conselho Ecclesia Dei datada de 01/09/2015, bem como do Motu Proprio Misericordia et Misera, de 20/11/2016, confirmou a validade e reconheceu a licitude das confissões e casamentos realizadas e assistidos pelos sacerdotes da FSSPX.

Como pode alguém chamar de “nova igreja” uma obra que usa o rito de sempre, o catecismo tradicional e mantém os sacramentos — com reconhecimento inclusive da Santa Sé?

Alinhamento doutrinal não é crime

É perfeitamente legítimo — e até recomendável — que um leigo, um grupo ou um apostolado se alinhe a uma obra que representa com fidelidade o ensinamento perene da Igreja.

O CDB tem afinidade doutrinária com a FSSPX? Tem. Isso é motivo de alarde? Não.

Alarde deveria causar a afinidade leigos e sacerdotes, supostamente católicos, com o modernismo, o progressismo e a confusão doutrinal institucionalizada.

A verdadeira ruptura vem de quem abandonou a Tradição

Acusar os tradicionalistas de dividir a Igreja é inverter a realidade. Foram os modernistas que introduziram no catolicismo ambiguidade, liturgias inventadas e teologias relativistas.

A Tradição católica é una, coesa, imutável em seus princípios essenciais. Quem permanece fiel à Missa de sempre, ao magistério pré-conciliar e ao catecismo tradicional não está dividindo — está resistindo com fidelidade.

A crise na Igreja é real — e silenciar sobre ela é negligência

O que incomoda em apostolados como o CDB é que eles falam abertamente sobre assuntos que muitos tentam evitar ou esconder.

A crise é objetiva: escândalos, heresias toleradas e sacerdotes que negam dogmas enquanto continuam em boa conta com as autoridades eclesiásticas. Ignorar isso é comodismo. Apontar é dever. E ninguém é obrigado a aceitar passivamente a destruição da fé.

Quem combate a crise presta serviço à Igreja — ainda que lhe custe a reputação.

Conclusão

O Centro Dom Bosco não está criando nada novo. Está apenas sendo fiel ao que sempre foi o catolicismo. O vínculo com a FSSPX é doutrinário, litúrgico, pastoral e moral — e isso é não só legítimo, como necessário, quando as alternativas são a confusão, a irreverência e o erro.

O que há aqui não é cisma, mas fidelidade. Não é rebelião, mas amor à Tradição. É resistência respeitosa. Como Dom Marcel Lefebvre já denunciava, em sua ‘Carta Aberta aos Católicos Perplexos’:

“Deus já não pune, como a Igreja já não condena, exceto aqueles que permanecem fiéis à Tradição.”

O que se vive aqui não é ruptura, mas a continuidade viva e fiel da Igreja de sempre.

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