A Coroa de Cristo e a Vergonha dos Católicos Liberais

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 12 de maio de 2025

O texto abaixo é a transcrição do sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia em Atibaia/SP, em 11/05/2025, III Domingo da Páscoa.


A doutrina católica, exposta pela Epístola do Primeiro Papa (cf. 1Pd 2,13-17), recorda-nos que existe uma hierarquia de autoridades, tanto na ordem sobrenatural quanto na ordem natural, e que ambas devem ser reconhecidas como instrumentos verdadeiros das disposições de Deus, enquanto se conservarem em harmonia com a Lei Divina. Quando não há contradição, quando não se tornam pedras de tropeço (cf. Rm 14,13), essa hierarquia deve ser atendida. Há um ordenamento criado por Deus e, dentro dele, todas as coisas precisam estar estabelecidas (cf. Rm 13,1).

Toda a ordem temporal, sendo transitória e passageira (cf. 1Cor 7,31), deve estar submissa, incondicionalmente, à ordem sobrenatural e à Lei Eterna. Não se pode, por exemplo, recorrer a uma calúnia para destruir um inimigo (cf. Sl 101,5) e justificar isso como instrumento da justiça divina. O meio é tão importante quanto o fim: se o meio é mal, o fim não se justifica (cf. Rm 3,8). Por isso, é preciso ter clareza sobre esse ordenamento, para não nos distanciarmos das obrigações também temporais, contanto que estas estejam subordinadas à Lei de Deus.

A solução, diante de qualquer dúvida, é recorrer ao Catecismo Romano, ao sacerdote que é mestre de fé e moral (cf. Ml 2,7). E, em nossos tempos, é preciso ir ao sacerdote da Tradição, aquele que guarda e transmite o que a Igreja sempre ensinou (cf. 2Ts 2,15). Não se pode, por exemplo, isolar citações de santos ou doutores, por mais sublimes que sejam, contra o conjunto do Depósito da Fé. Recentemente, viu-se um sacerdote ensinar, publicamente, um erro sobre a maternidade divina de Nossa Senhora, baseando-se em leitura isolada de um grande doutor. Mas a doutrina não se firma em opiniões particulares, e sim no ensino comum, guardado, transmitido e interpretado pela Igreja (cf. 1Tm 3,15).

Um exemplo eloquente é o da Imaculada Conceição: mesmo São Tomás não alcançou a plenitude da compreensão desse mistério, mas Duns Scotus o contemplou com maior profundidade. Por isso, não se deve isolar nem superestimar um doutor em detrimento da doutrina transmitida no conjunto do magistério tradicional.

A autoridade de Cristo se estende também à ordem temporal. “Instaurare omnia in Christo” (Ef 1,10), lema de São Pio X, não é uma figura de linguagem, mas um chamado. A solenidade de Cristo Rei, instituída em 1925 por Pio XI na encíclica Quas Primas, é expressão solene da verdade de que Nosso Senhor deve reinar sobre todas as esferas da vida humana (cf. Ap 19,16). Quando Cristo diz: “Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36), Ele não afirma que seu reinado não deva se manifestar aqui; apenas declara que sua origem não vem daqui. Se Cristo não reina neste mundo, quem reina é o Diabo (cf. 2Cor 4,4).

O liberalismo é a mentira supurante do nosso tempo. Trata-se a religião como placebo, como um calmante emocional. Reduz a fé ao conforto subjetivo (cf. 2Tm 4,3-4). Escolhe-se o que seguir, e ignora-se o que desafia a vontade. Essa atitude é herética, tanto quanto o marxismo. O liberalismo religioso foi condenado reiteradas vezes: por Pio IX, por Leão XIII, por São Pio X, por Pio XI. Não se pode viver no erro e na verdade ao mesmo tempo (cf. Mt 6,24). Ou se é católico, ou não. A fé católica não pode casar-se com nenhuma ideologia plantada pelo Maligno (cf. Cl 2,8).

O mundo observa os católicos, esperando seus deslizes para justificar sua iniquidade (cf. 1Pd 2,12). Não devemos dar essa desonra a Deus. Uma senhora, certa vez, foi interpelada por um protestante, o qual criticava as práticas mundanas de uma paróquia católica. Ele perguntou: “Se Cristo voltasse hoje, participaria desta igreja?”. Ela respondeu: “Nem desta e nem da sua”. Estava certa. Ambas as práticas encontravam-se fora da verdadeira religião. A mundanização das igrejas e a perda da reverência insultam a Deus (cf. Jo 2,16).

A Igreja é santa e indefectível (cf. Mt 16,18). Somos nós que tropeçamos. A verdadeira Igreja está glorificada no Céu (cf. Ap 21,2). A nossa luta é para manter a fidelidade na terra (cf. Hb 12,1). Devemos abandonar as saudades do Egito e da Babilônia (cf. Nm 11,5; Sl 136,1) e fixar os olhos em Jerusalém (cf. Hb 12,22).

É necessário permanecer sob o manto de Nossa Senhora. A festa de Fátima está próxima, recordando o mistério de sua intervenção materna. A promessa divina se cumpre sob a guarda da Rainha Santíssima (cf. Lc 1,48-49). Seu reinado não compete com o de Deus, mas participa dele de forma incomparável. É criatura, mas sem pecado original (cf. Lc 1,28), e ofereceu-se por inteiro ao Altíssimo. São Luís Maria Grignion de Montfort proclamava: “Eu sou o vosso. Tudo o que é meu, é vosso, ó Maria.”

O mundo, em sua idolatria grotesca, despreza essa devoção e exalta o que há de mais depravado (cf. Rm 1,21-32). As ruas estão cheias de manifestações infernais, em que as pessoas perdem até a aparência humana. E querem dizer que é idolatria amar aquela que Deus elegeu como Rainha? Vade retro, Satanás!

No encerramento, o sacerdote repete insistentemente: “Eu sou o vosso”, consagrando-se por inteiro à Virgem Santíssima.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

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