Santo Estanislau e o Otimismo dos Mártires: entre a Videira e o Jiló

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 7 de maio de 2025

O texto abaixo é a transcrição dum sermão proferido pelo Rev. Pe. Françoá Costa, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum (São Paulo/SP), em 07/05/2025.


O texto de Sabedoria, capítulo 5, fala da trajetória dos que amam a Deus e que, por isso, são zombados nesta terra. Fala também da vitória desses justos e da derrota dos que os zombaram. O autor coloca essas palavras na boca dos insensatos: “Considerávamos a vida do justo uma loucura e sua morte uma ignomínia, mas agora vemos que eles estão entre os filhos de Deus” (cf. Sb 5,4-5). Os ímpios, no fim, são obrigados a reconhecer a vitória dos justos.

Esse texto se encaixa perfeitamente com a vida de Santo Estanislau, celebrado hoje. O Evangelho de João 15 também se aplica a ele, ao falar da união do ramo com a videira. Santo Estanislau era unido a Deus e sua justiça vinha de Deus, não dos homens. Diante do rei da Polônia, Boleslau, ele se portava com firmeza e retidão. Boleslau era católico, sim, mas não um bom católico. Era um homem inclinado ao mal, como demonstram diversos fatos de sua vida.

Santo Estanislau, ordenado sacerdote e depois bispo de Cracóvia, exortava constantemente o rei a se comportar bem. Estava consciente da autoridade que lhe cabia como bispo e sucessor dos Apóstolos. Certa vez, disse: “Não ouse comparar a dignidade real com a dignidade episcopal; a primeira é como a Lua diante do Sol, que é a segunda”. Ou seja, os reis devem receber luz da Igreja.

Essa santidade e firmeza incomodaram tanto o rei que, em última instância, ele mesmo assassinou o bispo com as próprias mãos e ainda espalhou seus órgãos pelo campo. Os fiéis recolheram e recompuseram o corpo do bispo-mártir, depois canonizado por Urbano IV.

Desde o início, a Igreja foi marcada pelo sangue dos mártires, que mais perfeitamente imitaram Nosso Senhor na Cruz. Por isso, nos altares, colocamos relíquias de mártires, não de qualquer santo. O sangue dos mártires, unido ao do Cordeiro, é fonte de novos cristãos. Disse um escritor antigo: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.

A história confirma isso. Quantos nomes de traidores nós esquecemos, mas lembramos dos fiéis! Os bispos ingleses que traíram a fé diante de Henrique VIII são hoje anônimos, mas lembramos de São João Fisher. O mesmo vale para Santo Atanásio, que enfrentou muitos que renegaram a verdadeira fé. Lembramos dos fiéis. Mesmo Judas Iscariotes quase não é mais lembrado. Importa lembrar de Pedro, João, Paulo, os santos.

Por isso, devemos valorizar a vida dos mártires. E diante do sacrifício de Cristo e dos mártires, não poderíamos ao menos reclamar menos? Reclamamos do calor, do frio, da comida, de tudo. Admiramos os mártires, mas não sofremos nada. Qualquer coisa é motivo para reclamação. Não reclamar é bom treinamento para o sacrifício.

Esse é o ponto: parar de reclamar. Ser positivo é agradecer, por tudo: pelo frio, pelo calor, pela comida, pelo que temos e até pelo que não temos. Tudo pode ser preparação para o futuro.

Valorizar o Sacrifício da Missa inclui oferecer o nosso: nosso silêncio, nossa mudança de atitude. Não sejamos pessimistas. Isso limpa a alma, que não pode ser como água parada.

Alguém me perguntou ontem numa live sobre gente que perseguiu padres e famílias. Respondi: está tudo bem. Não guardo nada. Perdoo. Eles seguem a vida deles. Nós é que ficamos mal se guardarmos ressentimentos.

Abrir a alma é o caminho. Ter visão positiva. Transformar o jiló ou limão da vida em algo bom. Que Deus nos dê alegria e paz. Os mártires, ao irem para o suplício, iam cantando salmos. Que também nós, com espírito agradecido, os imitemos.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

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