O Pastor, a Sentinela e a Paixão da Igreja

O texto abaixo é a transcrição do sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum (São Paulo/SP), em 04/05/2025, Domingo do Bom Pastor.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
Queridos filhos, caríssimos fiéis,
A epístola de hoje é uma pérola preciosa vinda do coração de Deus. Por meio do autor secundário, o Primeiro Papa, recebemos esta palavra que nos revela a imensidão do benefício que nosso Rei eterno nos conquistou.
Não podemos desprezar esse dom, nem tratá-lo como algo de pouca monta.
“Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora vos convertestes ao Pastor e Bispo de vossas almas” (1Pd 2,25). Aqui, a palavra “bispo” tem o sentido de sentinela, muito mais que uma simples vigia: é aquele que protege e guarda verdadeiramente, dando a vida para nos resgatar do lobo maior, o maligno, assassino permanente (cf. Jo 10,11-15).
Essa é uma revelação que não veio nem da carne, nem do sangue, nem tampouco da inteligência humana de São Pedro (cf. Mt 16,17). É o Espírito Santo quem ilumina. Sim, nosso Rei eterno é o Pastor, o Sumo Sacerdote (cf. Hb 4,14), o Profeta, o Pontífice definitivo. Os demais eram apenas figuras. E os papas, hoje, devem ser sua representação visível, não seus substitutos.
Medito sobre o tamanho do resgate operado por Nosso Senhor: tirou-nos do erro da heresia modernista, da nova religião do Novus Ordo, e nos trouxe ao aprisco autêntico (cf. Jo 10,16). Não que os que lá estão não tenham autoridade, mas não a usam para servir a Deus. Como disse Nosso Senhor: “Escutai-os quando dizem: ‘Moisés disse’, pois isso é a revelação. Mas afastai-vos de suas interpretações, pois nelas há veneno” (cf. Mt 23,2-3).
O Novus Ordo é como Prometeu: a autoridade, entregue a ladrões, é usada para destruir almas (cf. Jo 10,10). Por isso louvamos a providência divina que nos deu Dom Marcel Lefebvre. Pelas “pisaduras” de Cristo fomos curados (cf. Is 53,5; 1Pd 2,24), e Dom Marcel seguiu essas pisaduras com firmeza, decidido a dar sua vida. Foi destruído para que a cidade sagrada fosse edificada (cf. Sl 126,1).
A atual hierarquia, escravizada pela nova religião, não pode dar a vida pelas ovelhas, pois não a deu ao Senhor. Nosso Senhor advertiu Pedro na instituição do sacerdócio: entregou-lhe os instrumentos da paixão – a patena e o cálice (cf. Lc 22,19-20). O rito tradicional da ordenação sacerdotal reflete isso: “Sacrifica a vítima pura.” Tirando a paixão do Senhor, tudo sucumbe. Por isso, o demônio criou uma falsa missa, uma anti-liturgia.
Como é confortador estar na Tradição! Mas não nos dá moleza, e sim força (cf. 2Tm 2,1-3). Esse conforto nos fortalece com o Senhor. Agora, precisamos pensar nos outros. Quantos mais ainda precisam ser resgatados? Convidem-nos à capela, levem-nos a uma missa de sempre. Leiam com eles, e depois levem-nos aos sacerdotes, pois somente os sacerdotes podem dizer: “Lázaro, vem para fora” (Jo 11,43).
Chegam muitos e-mails com dúvidas. Precisamos respondê-los com caridade. Almas em letargia espiritual precisam ser despertadas. “A luz brilhou nas trevas, e as trevas não a dominaram” (Jo 1,5). O prólogo de São João nos conforta: é uma guerra contra a gnose, contra a perfídia universal.
Agradeçamos a Deus por Dom Marcel Lefebvre, que guardou o depositum fidei (cf. 1Tm 6,20) e nos trouxe a Lex Credendi e a Lex Orandi verdadeiras. Há dois anos, ainda estávamos como ovelhas desgarradas, por ignorância (cf. At 17,30). Hoje somos ovelhas resgatadas.
Esta é a semana decisiva.* Sem falsas iluminações, seguimos com a Tradição autêntica. O que virá? A paixão da Igreja se aprofundará? Ou virá um restaurador? Rezo para que se cumpra a vontade de Deus (cf. Mt 6,10).
Estamos talvez às portas da manifestação do Anticristo (cf. 2Ts 2,3-4). Mas estamos em paz. Estamos no redil da Tradição. Não precisamos de um papa morno (cf. Ap 3,15-16). Um papa “conservador” seria uma tragédia: mornaria tudo. Nada de bandeirinhas. Ou é tudo ou nada. Como disse o Pe. Françoá: ou é oito (a paixão) ou oitenta (o restaurador).
Deus pode surpreender: um papa conservador que se convertesse à fé católica no momento da eleição. Seria um milagre. Mas não exijamos de Deus expedientes. Mantenhamo-nos humildes, esperançosos e firmes na cruz (cf. 1Cor 1,18; Mt 16,24). Nunca houve momento tão grave. Mas para nós, paz.
Somos católicos apostólicos romanos. Fiéis da Tradição. Agradeçamos a Deus por Dom Marcel. Que Nossa Senhora guarde a Santa Igreja.
“Non praevalebunt” (cf. Mt 16,18).
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
* Este sermão foi proferido às vésperas do início do conclave que elegeria o sucessor do Papa Francisco (2013-25).