Santo Atanásio de Alexandria: modelo de fidelidade e coragem

O texto abaixo é a transcrição do sermão proferido pelo Rev. Pe. Françoá Costa, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum (São Paulo/SP), em 02/05/2025, Festa de Santo Atanásio.
“Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra.”
Este introito do Evangelho aplica-se perfeitamente a Santo Atanásio de Alexandria, cuja festa celebramos hoje. Ele foi exilado cinco vezes de sua própria diocese, tendo nascido no ano 296 e falecido em 373. Doutor da Igreja, Santo Atanásio é um dos quatro grandes doutores do Oriente, junto aos quatro do Ocidente. Esse número simbólico de oito doutores permaneceu inalterado até o século XVI, quando o Papa São Pio V declarou Santo Tomás de Aquino como doutor, quebrando esse número que remetia à plenitude das bem-aventuranças.
Santo Atanásio foi educado por Santo Alexandre de Alexandria, que, ao presenciar o jovem Atanásio brincando de batizar seus amigos na praia, primeiro repreendeu a atitude, mas ao verificar que o rito fora seguido corretamente, declarou os batismos válidos. Impressionado, acolheu Atanásio em sua casa e cuidou pessoalmente de sua formação, incentivando-o à leitura, oração e vida ascética.
Atanásio também passou anos entre os monges do deserto, convivendo com santos como Santo Antão e São Pacômio, o que foi essencial para sua espiritualidade. Aos 22 anos, era visto em alta madrugada lendo as Escrituras à luz de velas. Tornou-se então diácono de Santo Alexandre e acompanhou-o ao Concílio de Niceia, em 325. Ali, Atanásio, ainda diácono, pediu permissão para se levantar entre 300 bispos e defender brilhantemente a doutrina da Santíssima Trindade contra a heresia ariana.
Com a morte de Santo Alexandre, Atanásio tornou-se bispo de Alexandria, cargo que ocupou por cerca de 50 anos. Ele enfrentou duras perseguições, inclusive de papas e imperadores hereges, como o Papa Libério, que assinou um documento contra a fé e contra Atanásio. Mesmo assim, Atanásio continuou a pregar, governar e santificar a diocese, mesmo do deserto. Quando substituído ilegitimamente, os fiéis se recusavam a reconhecer outro bispo. Ele escrevia:
“Esse bispo é falso. O bispo de vocês sou eu.”
A vida de Santo Atanásio se assemelha, em muitos aspectos, à de Dom Marcel Lefebvre, também perseguido e incompreendido por sua fidelidade à Tradição da Igreja. Atanásio foi um verdadeiro pilar na defesa da fé, especialmente do mistério da Trindade.
Em 1979, refletindo os frutos do Concílio Vaticano II, uma freira ousou dizer que deveríamos dizer “em nome do Pai, do Filho e da Espírito Santa”. Uma heresia absurda, que já havia sido combatida na patrística pela seita dos “obscenos”. Essas falsas doutrinas se multiplicam hoje, mas não têm nem a inteligência das antigas heresias. Como dizia Santo Atanásio sobre certos bispos hereges: “São doutores em impiedade”.
Nos últimos 10 anos de sua vida, Santo Atanásio gozou de profunda reverência. Nem mesmo o imperador ousava tocá-lo. São Basílio de Cesareia escreveu a ele:
“Teus cabelos brancos, tua barba, tua voz, já nos manifestam a verdadeira fé católica”.
Sua diocese foi sucedida por outro santo: São Pedro de Alexandria. Que exemplo de continuidade na santidade!
Termino dizendo que todos queremos também ver nossa história e a da Igreja concluída com as palavras: “e todos viveram felizes para sempre”. E viveremos, pois a Igreja é indefectível. Como diz São João:
“A vitória que vence o mundo é a nossa fé”.
De modo especial, consagrei a capela de nosso apostolado em Brasília a Santo Atanásio. Hoje é um dia especial para todos os que participam daquele apostolado. Rezemos também por Maria Rodrigues, falecida há 16 dias, e por todas as intenções que trazemos ao altar do Senhor.
Que Santo Atanásio interceda por nós e pela Santa Igreja. Que um dia possamos dizer juntos, no céu:
“E todos foram felizes para sempre”.
Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a vós.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.