Sarah, Burke e Müller São Esperanças de Restauração da Tradição?

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 24 de abril de 2025

Introdução

Com a crise profunda que abala a Igreja desde o Concílio Vaticano II, muitos católicos desejosos de ver a restauração da Tradição depositam esperanças em certos cardeais que se destacam por uma aparente ortodoxia doutrinária e uma postura mais conservadora. Entre eles, destacam-se Robert Sarah, Raymond Leo Burke e Gerhard Ludwig Müller.

Contudo, uma análise mais cuidadosa revela que essas figuras, embora com méritos pessoais e coragem em alguns momentos, não representam uma verdadeira ruptura com o sistema conciliar que causou a crise.

Robert Sarah: o estético reconciliador

O Cardeal Sarah impressiona por seu zelo pela liturgia, seu apelo ao silêncio, ao “ad orientem” e à reverência. Mas seu projeto é de reconciliação, não de restauração. Ele aceita plenamente o Vaticano II e nunca negou a legitimidade da Missa Nova. Deseja aperfeiçoar a reforma litúrgica e pastoral promovida pelo Concílio, não abandoná-la.

Sua linguagem é bela e espiritual, mas é incapaz de confrontar diretamente o sistema conciliar que combate apenas em aparência.

Raymond Burke: o mais próximo, mas ainda conservador

O Cardeal Burke é o que mais se aproxima do pensamento tradicional, especialmente na liturgia e na moral. Crítico direto de Amoris Laetitia e defensor da Missa Tridentina, parece corajoso. Contudo, ele reconhece a legitimidade do Concílio e da Missa Nova — inclusive em entrevistas concedidas em 2017 e 2021 —, participa do sistema conciliar e nunca deu um passo claro em direção à ruptura com os erros.

Sua esperança é numa reforma por dentro, não na restituição da ordem doutrinal clássica.

Gerhard Müller: o mais perigoso, pela ambiguidade

O Cardeal Müller é muitas vezes considerado o “intelectual ortodoxo” do Vaticano. Mas suas heresias materiais estão documentadas: em sua obra “Die Messe – Quelle des christlichen Lebens”, afirmou que Corpo e Sangue de Cristo significam apenas a “presença no sinal” do pão e do vinho, não os componentes materiais do Senhor. Além disso, colaborou com Gustavo Gutiérrez, pai da Teologia da Libertação, defendeu a nova missa e o Vaticano II como “única interpretação possível”.

Mesmo criticando abusos, permanece firmemente dentro do edifício conciliar, apenas corrigindo suas rachaduras, nunca questionando os alicerces podres.

Conclusão

A verdadeira Tradição exige continuidade com os dogmas, liturgia e magistério pré-conciliares, como expressos no Concílio de Trento, no Catecismo de São Pio X e nas encíclicas antimodernistas de papas como Leão XIII, São Pio X e Pio XII. Nenhum desses cardeais, até agora, propôs um retorno autêntico à doutrina imutável da Igreja.

A solução não virá de dentro do sistema que produziu a crise, mas da fidelidade perseverante à Tradição viva, sustentada por aqueles que jamais cederam ao modernismo travestido de pastoral.

A menos que Burke, Sarah ou Müller passem por uma “virada de chave” – como aconteceu com Pio IX, após a entronização -, esperar que eles restaurem a Tradição pode, no fundo, significar perpetuar a ilusão de que é possível reconciliar luz e trevas, verdade e erro, Tradição e Vaticano II.

A verdadeira esperança está na fidelidade integral, sem concessões.

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