Sacerdócio, Cruz e Redenção: o Mistério de Cristo na Semana da Paixão

Juliano de Henrique Mello By Juliano de Henrique Mello 13 de abril de 2025

O texto abaixo é a transcrição dum sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum (São Paulo/SP), em 06/04/2025, I Domingo da Paixão.

 


 

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

Com ação de graças, mas também com as nossas orações, acompanhemos o Padre Françoá Costa, que ontem manifestou publicamente sua profissão de fé e sua adesão à posição da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Hoje está em Anápolis/GO, como sacerdote amigo da Fraternidade.

Que persevere nesse caminho de fidelidade a Deus. Certamente agora viverá sua Paixão, sua via dolorosa, para a maior glória de Deus. Assim o seja. Rezemos pelo Padre.

Meus filhos,

A Epístola aos Hebreus, considerada pelos Padres da Igreja como a epístola sacerdotal, recorda que a promessa do Sumo e Eterno Sacerdote, feita pelo Pai para a redenção do mundo, refere-se ao Seu próprio Filho feito homem, com valor e constituição eterna e infinita (cf. Hb 5,5-10).

Esse Filho, Cristo, se imolaria em seu corpo para satisfazer a justiça divina. Nenhum novilho, nenhuma vítima do Antigo Testamento, ainda que prescrita por Deus, poderia satisfazê-la plenamente. Todo o culto antigo era apenas imagem opaca e transitória da verdadeira adoração perfeita e infinita de Cristo.

Na noite da Quinta-feira Santa, institui-se o Sacerdócio, o Sacrifício e o Santíssimo Sacramento. E na Cruz, essa instituição se consuma e se perpetua no altar. Cristo é o Pontífice único dos bens eternos: redenção, libertação da tirania do demônio, salvação e santidade.

Como canta o Benedictus: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, […] para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1,68.79). Nosso Senhor é o Pontífice eterno, “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Fora d’Ele “não há salvação” (cf. At 4,12).

Tendo-nos dado uma Mãe incomparável como Medianeira de todas as graças, significa que Ela é o acesso único até Ele; e por Ele, vamos ao Pai e à eternidade.

Não há cegueira mais doentia que a espiritual, nascida do orgulho humano, insuflado pelo demônio. Israel deveria ter feito penitência e aguardado o Pontífice eterno. Foram os primeiros herdeiros, mas abriram mão desses bens por ilusão demoníaca, criando para si um caminho que levou à morte e à ruptura da Aliança. Perderam a primogenitura. Nosso Senhor anunciou:

“Os primeiros serão os últimos” (cf. Mt 19,30).

Por fidelidade a Si mesmo, e não por merecimento humano, Deus permaneceu fiel à Sua glória e honra. Já Israel tornou-se rebelde, irreverente e sacrílego. O confronto de Nosso Senhor com os fariseus, já em Jerusalém, foi o mais duro:

“Vós não entrastes, nem deixastes os outros entrar” (cf. Lc 11,52).

Falo-vos com dor no coração, como depositário e transmissor da Verdade: esse farisaísmo prolongou-se no neofarisaísmo da hierarquia atual. Não transmitem mais a doutrina, nem os sacramentos, nem a santidade. Fecharam-se em si mesmos.

Hoje é o primeiro domingo da Paixão do Senhor, ainda na Quaresma. Inicia-se a Semana da Paixão. Compreendamos a grandiosidade da Cruz: a guerra contra o demônio, contra o inferno e contra o pecado, que ofendeu a Deus e Lhe roubou a adoração e a fidelidade devidas.

Como disse nossa Rainha Santíssima: “Ó vós que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor igual à minha” (Lm 1,12). Deus foi injuriado, ofendido, desprezado. A nova hierarquia modernista, rompida com a fé católica, infectada de paganismo, renuncia ao Filho de Deus e O nega num “iscariotismo” (atitude típica de um Judas Iscariotes) incessante. Caíram na apostasia. Não anunciam mais o mistério do Filho de Deus.

Cristo veio restituir ao Pai o que Lhe era devido: adoração, glória, expiação, súplica. Nada nem ninguém poderia oferecer isso, nem mesmo a Mãe de Deus, por ser criatura. Somente o Filho, por ser Deus e sem pecado, poderia satisfazer a justiça divina. A redenção nela se deu por prerrogativa: foi preservada da mácula do pecado. Mas o sacrifício é do Filho, e de valor infinito.

Isso foi o que a Igreja recebeu, deve guardar e transmitir. Como diz São Paulo: “O que eu recebi, isso vos transmito” (1Cor 11,23). Anunciamos plenamente o mistério do Filho de Deus feito homem, e a Santíssima Trindade. Sem a Encarnação, não haveria ciência revelada. Um mistério inalcançável pela razão humana, mas dado a conhecer por meio do Filho (cf. Jo 1,18).

Que dor estar na posição dos fariseus! Que Deus livre os sacerdotes disso. “Se vós conhecêsseis o Pai, conheceríeis a mim. Se vós amásseis o Pai, amaríeis a mim” (cf. Jo 8,19.42). A casta espiritual foi vencida, paganizada, infiel. Mas Deus é fiel. Salvou alguns, como Nicodemos e José de Arimateia. Mais ainda: tirou Saulo do meio dos fariseus e o fez o segundo em dignidade na Igreja.

É Deus quem faz. De uma raça de serpentes, tirou um vaso de eleição (cf. At 9,15). De um filho dessa raça, fez um milagre. Ele não retrocede diante de Sua grandeza e magnificência.

Nesta Semana da Paixão, peçamos silêncio interior, ordem da inteligência, fé purificada, para penetrar no mistério da obediência até a morte de cruz (cf. Fl 2,8). Não sejamos rebeldes. A maior ilusão é pensar que, por estar numa capela da Tradição, já se está salvo. Pelo contrário: os bispos consagrados serão crucificados. O sacerdote que não entende isso é infiel.

Como disse um sacerdote piedoso: esses bispos viverão o mistério do Filho de Deus. Seus corações serão feridos, sua honra, fama, dignidade. Serão caluniados, ultrajados, mentidos. De seus corações feridos virá a redenção sobre o demônio.

Deus queira que assim seja. Que os sucessores dos Apóstolos sejam crucificados. Este será o sinal de sua fidelidade ao Filho de Deus.

Nesta semana, Nossa Rainha Santíssima nos inflame nos ímpetos de fidelidade, obediência e sofrimento com Cristo e com Ela, pela glória da Igreja, pelo bem das almas, pela restituição do que foi roubado.

Não nos iludamos. O neofarisaísmo está aí. Essa raça de serpente, capitaneada por Satanás, infiltrou a Igreja, tomou-a de assalto. Mas os fiéis à cruz e ao Gólgota anunciam: Tradidi quod et accepi. “O que eu recebi, isso vos transmito”: Cristo crucificado, para a glória de Deus e a salvação das almas, perpetuado sobre o altar.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

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