O Tempo da Paixão e a Derrota do Mundo

O texto abaixo é a transcrição dum sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum, em São Paulo/SP, em 30/03/2025, IV Domingo da Quaresma (Laetare).
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Estamos às portas do tempo da Paixão do Senhor. O próximo domingo será o Primeiro Domingo da Paixão, seguido do Segundo Domingo da Paixão, que também é chamado de Domingo de Ramos. Depois, a Semana Santa e, enfim, o Domingo de Páscoa.
A Igreja, com perfeição admirável, organizou uma preparação sagrada para o grande mistério da Redenção.
Porém, essa ordem foi devastada por uma nova religião. A contagem do tempo litúrgico foi destruída. O povo de Deus foi privado da catequese mística que Nosso Senhor estabeleceu em sua Paixão, Morte e Ressurreição. A preparação para a instituição do Santíssimo Sacramento, do sacerdócio e do sacrifício foi substituída por uma celebração humanista, superficial, quase como um piquenique entre amigos.
A Quinta-feira Santa é o momento da tripla instituição: o sacerdócio, a Eucaristia e o sacrifício. Tudo isso aponta para o mistério trinitário e para a vida eterna. Não teremos mais a função sacerdotal no céu, nem o sacrifício sobre os altares, pois a Vítima já estará exaltada para sempre. Mas aqui na terra devemos viver em estado permanente de “viaticidade”, segundo São Gregório Magno, como quem caminha rumo ao último destino, o status termini.
Devemos viver desprendidos do mundo, orientando a ordem temporal à ordem eterna. Toda a vida cristã é orientada ao altar, onde habitamos sob as asas do Senhor, sob sua autoridade. Vivemos assim na “liberdade gloriosa dos filhos de Deus”, e não como escravos escrupulosos, como o filho mais velho da Parábola do Filho Pródigo.
Nosso Senhor quer que vivamos em permanente estado de conversão, combatendo o pecado, o mundo e o demônio. Recebemos a vida sobrenatural, a graça santificante, as graças atuais, a caridade difusa, a penitência como remédio, tudo por amor a Deus e ao próximo.
A Tradição nos ensina que na noite de Quinta-feira Santa, Nosso Senhor é entregue de forma traiçoeira ao Sinédrio. Durante a madrugada, o comandante da guarda de Jerusalém acorda Pôncio Pilatos para alertá-lo do perigo iminente. Pilatos, confuso, se depara com a mesma multidão que aclamou Jesus no domingo anterior (o “Domingo de Ramos”), agora gritando por sua crucificação. Multidão essa que foi alimentada, curada e instruída por Nosso Senhor.
Quantos hoje continuam a gritar “Crucifica-o!” com seus pecados mortais, sua indecisão, sua covardia de viver a verdade? Foi fabricada uma multidão de “cadáveres covardes”, que não têm coragem de viver a verdade de Deus.
Um único ato de generosidade diante de Deus já é um passo para a santidade.
Não temos forças próprias. Se não vigiarmos, se não estudarmos a doutrina, se não fizermos penitência, seremos facilmente derrubados. Precisamos contemplar o Crucificado, entender o mistério de cada flagelo, de cada ferida, e mergulhar nesse mistério.
Naquela sexta-feira de manhã, muitos dos que haviam sido beneficiados por Cristo clamaram por sua morte. Não sejamos ingratos! Peçamos à Nossa Senhora, nesta última semana antes do Tempo da Paixão, que nos ajude a não desatinar, a não colocar freios em nossa vontade de reparar e de nos converter.
Busquemos os meios de penitência, os sacramentos, o Catecismo Romano, os escritos de Santo Afonso, e evitemos o sentimentalismo dissoluto. Sejamos combativos, com ódio ao pecado, ao mundo e ao demônio, por amor de Deus, de Sua glória e das almas.
Nossa Senhora, alcançai-nos essa graça.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.