O texto abaixo é a sexta meditação feita pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, no Retiro de Carnaval realizado na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum, em São Paulo/SP, na data de 02/03/2025.

O amor a Deus é um chamado à entrega total. São Paulo disse ‘já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim’ (Gl 2,20), indicando que essa entrega envolve a renúncia de si mesmo para que Deus habite plenamente em nós. Amar a Deus verdadeiramente significa desapegar-se das coisas do mundo e ordenar toda a vida segundo Sua vontade. Esse caminho exige renúncia, mas também traz a maior das recompensas: a união com o Criador.

Os santos compreenderam isso profundamente e viveram como testemunhas desse amor absoluto, ensinando que o verdadeiro sentido da vida está em Deus e não nas satisfações passageiras desta terra. Santo Inácio de Loyola, por exemplo, ao se converter, abandonou sua vida de glórias militares para dedicar-se inteiramente ao serviço de Deus.

Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que seu coração era um holocausto de amor, sem reservas ou divisões. Essa entrega total não significa desprezar as coisas criadas, mas colocá-las no devido lugar, utilizando tudo como meio para a santificação. O apego desordenado às riquezas, ao prestígio e aos prazeres mundanos nos distancia do amor divino. “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6,24), adverte Nosso Senhor, lembrando-nos que devemos escolher entre Deus e o mundo.

A obediência e a humildade são virtudes indispensáveis para quem deseja crescer na santidade. A história dos santos está repleta de exemplos de almas que, renunciando aos próprios desejos, submeteram-se inteiramente à vontade divina. Os pastorinhos de Fátima, Jacinta e Francisco, desde a infância compreenderam essa verdade e ofereceram suas vidas em reparação pelos pecados do mundo. O desprendimento das comodidades e das próprias vontades os conduziu a um amor mais puro e elevado.

O verdadeiro amor a Deus nos impulsiona a buscá-Lo acima de todas as coisas e a rejeitar aquilo que nos afasta Dele. Esse esforço pode ser vivido de maneira prática por meio da oração perseverante, do jejum e da prática da caridade, que nos ensinam a colocar Deus em primeiro lugar em nosso dia a dia. Esse amor se manifesta de maneira concreta na renúncia cotidiana, na fidelidade à oração e na busca pela virtude. São João da Cruz ensina que a alma só encontrará verdadeira paz quando se esvaziar de tudo o que não é Deus, permitindo que Ele a preencha por inteiro.

Portanto, desapegar-se do mundo não significa simplesmente abandonar bens materiais, mas reordenar os afetos do coração para que tudo seja colocado a serviço de Deus. Quando amamos a Deus com todo o nosso ser, experimentamos uma liberdade verdadeira, pois nossa felicidade já não depende das coisas efêmeras, mas da presença do Senhor em nossa alma. Assim viveram os santos e assim somos chamados a viver, fazendo da nossa vida um ato contínuo de amor e entrega ao Criador.