Conferência do Bispo Richard Williamson sobre a música moderna alheia aos cânones clássicos e seus aspectos revolucionários e anticristãos. Esta conferência foi proferida durante as Jornadas de Humanidades de 2006, realizadas no Seminário Nossa Senhora Corredentora, em La Reja – Província de Buenos Aires.
A música é uma expressão essencial da condição humana. De fato, não apenas os seres humanos, mas também os animais e as plantas respondem à música. Estudos realizados nos EUA demonstraram isso ao exporem quatro grupos de plantas a diferentes tipos de som: canto gregoriano, música clássica, silêncio e rock. As plantas expostas ao canto gregoriano floresceram, enquanto as expostas ao rock mostraram sinais de deterioração. Isso indica que a música pode influenciar profundamente os seres vivos, sugerindo uma harmonia inerente ao mundo criado por Deus.
Na mitologia grega, Orfeu tocava sua lira e encantava não apenas os homens, mas também os animais e a própria natureza. Essa história ilustra a ideia de que a música pode harmonizar e influenciar o mundo ao nosso redor. Na vida real, os camponeses percebem que a música suave pode aumentar a produção de leite das vacas, enquanto certos estilos musicais podem tê-la reduzida. Esse fenômeno reflete a existência de uma ordem natural que pode ser perturbada por certos tipos de som, assim como o pecado perturba a harmonia estabelecida por Deus.
A história da música também mostra como ela pode expressar diferentes estados da alma. Algumas peças musicais carregam um espírito de revolução. Por exemplo, a sonata “Appassionata” de Beethoven era uma das favoritas de Lenin, que a considerava um reflexo do fervor revolucionário. Nem toda a obra de Beethoven segue esse padrão, mas algumas de suas composições expressam um espírito de agitação e mudança. Por outro lado, compositores como Bach e Mozart criaram músicas que refletem a ordem e a harmonia divinas.
A revolução busca negar a essência das coisas, mas a realidade é que tudo tem uma natureza dada por Deus. Pitágoras falava da “harmonia das esferas”, imaginando uma música universal que reflete a ordem do cosmos. Essa ideia se encaixa na perspectiva cristã de que Deus criou o mundo com uma estrutura ordenada. Santo Inácio de Loyola, em seus “Exercícios Espirituais”, aponta como o pecado perturba essa ordem, introduzindo desarmonia.
O pecado é, essencialmente, uma revolução na alma do homem. Os animais seguem sua natureza e não pecam, mas o homem tem livre arbítrio e pode se rebelar contra a ordem divina. A música reflete essa dinâmica: ela pode expressar tanto a harmonia quanto a desordem. Bach, por exemplo, compunha “para a glória de Deus” e sua música reflete um padrão matemático e harmonioso. Mozart também criava melodias em que o ritmo e a harmonia estavam subordinados, mantendo um equilíbrio sublime.
O rock, por outro lado, enfatiza o ritmo acima da melodia e da harmonia. A melodia fala à mente, a harmonia ao coração e o ritmo ao corpo. Não é coincidência que “rock and roll” seja uma expressão coloquial nos EUA para o ato sexual. Quando o ritmo domina, a música perde sua estrutura, refletindo uma inversão de valores e a desordem moral.
Introduzir na Igreja uma música onde predomina o ritmo, com pouca harmonia e melodia, é um desafio contra Deus. Talvez não tenhamos consciência disso, mas a natureza da alma é objetiva e não depende de gostos individuais. Assim como Deus criou a alma com uma essência definida, a música também tem uma estrutura que influencia as pessoas de maneira universal.
Quando analisamos a música sob essa perspectiva, percebemos que certos estilos promovem o desordem. A “Appassionata” de Beethoven, independentemente do rock, também apresenta uma estrutura que expressa crise e revolução.
Os pais católicos que compreendem a influência da música nas almas proibirão o rock em seus lares. Muitos não o fazem porque não percebem a conexão entre música e vida espiritual. No entanto, Deus não se deixa escarnecer. Não podemos nos associar ao demônio nesta terra e esperar o gozo ao lado de Deus no céu.
Deus nos concedeu livre arbítrio para escolhermos como conduziremos nossas vidas. Se desejamos um lar em harmonia com Deus, devemos escolher uma música que reflita essa ordem. Aqueles que insistem no rock, com seu ritmo dominante e sua pobreza melódica e harmônica, colherão os frutos dessa escolha. Mas, se queremos viver em harmonia com Deus, devemos optar por uma música em que a melodia seja o centro, com a harmonia e o ritmo subordinados a ela.
Assim, mais do que uma questão de preferência pessoal, devemos refletir sobre a natureza da música e seu impacto em nossas almas, ao analisarmos a essas verdades sobre a música e sua relação com a ordem e a harmonia criadas por Deus.