Hierarquia, Vocação e Ordem Divina: Os Exemplos de São Francisco Xavier e Santo Inácio de Loyola

O texto abaixo é uma transcrição, adaptada para publicação com auxílio de software de inteligência artificial, duma conferência feito pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, na sede da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), em São Paulo/SP, em 19/03/1980.

 


 

São Francisco Xavier, recrutado por Santo Inácio de Loyola para ser um dos fundadores da Companhia de Jesus, expressava profundo respeito e devoção por seu superior. Como grande apóstolo do Japão, com aspiração de evangelizar a China e a Índia, ele via Santo Inácio como “Deus na Terra”. Essa expressão, que poderia chocar algumas sensibilidades, era usada com pleno entendimento da hierarquia espiritual e do papel de Santo Inácio como guia na ordem da vocação e da graça.

Na Igreja, a hierarquia é essencial: o Papa, os bispos e os padres, ao ensinarem e governarem segundo a doutrina católica, são como representações de Deus para os fiéis. Esse princípio também se estende à ordem temporal, onde governantes e autoridades exercem poder legitimado por Deus. Assim, obedecer a essas autoridades, quando suas ordens estão dentro de sua missão, é obedecer a Deus.

A desigualdade social, quando harmoniosa e proporcional, também reflete essa ordem divina. As classes mais altas, ao possuírem cultura, tradição e educação, devem ser modelos de elevação para as classes mais baixas. Essa assimilação não significa imitação, mas a influência moral e cultural que inspira o crescimento.

O urbanismo moderno, ao separar as classes sociais em bairros distintos, prejudica essa interação natural. Antigamente, a convivência entre diferentes camadas sociais permitia a troca de valores e a inspiração recíproca, promovendo um desenvolvimento equilibrado.

A festa de São José ilustra bem essa hierarquia sagrada. Pai legal de Jesus, ele possuía uma autoridade espiritual e temporal excelsa. Se sua presença física na Terra já era edificante, sua influência espiritual permanece até hoje. Assim, a ordem social e espiritual não deve ser disfarçada, mas aceita e vivida em sua plenitude, com cada um ocupando seu lugar de acordo com a vontade divina.

Os senhores têm todos em vista atualmente que São Francisco Xavier é o grande apóstolo do Japão e que morreu com os olhos voltados para a China, que ele queria evangelizar. Ele escrevia a Santo Inácio e dizia que para ele, Santo Inácio era Deus na Terra.

A expressão pode chocar aqueles que são excessivamente cuidadosos da doutrina católica. Mas ninguém poderia ser mais cuidadoso da doutrina católica do que São Francisco Xavier ou Santo Inácio, que recebeu a carta e a considerou completamente normal.

Isso se deve ao fato de que, na ordem da vocação, Santo Inácio era mais do que São Francisco Xavier, pois era o fundador da Companhia de Jesus e representava um ideal que Xavier deveria seguir. Santo Inácio era como uma representação de Deus para Xavier, um símbolo divino, um guia infalível na ordem da graça.

De forma similar, o Papa, o Bispo e o Padre, na medida em que ensinam a doutrina verdadeira, são como Deus na Terra para os católicos.

Da mesma forma, as autoridades civis representam uma extensão dessa realidade: o prefeito, o governador, o presidente da república exercem um poder cuja origem é divina. Quando exercem essa autoridade dentro dos limites da moralidade e da justiça, devem ser obedecidos como se fossem a própria voz de Deus.

Esse princípio também se reflete na estratificação social. As classes mais altas exercem uma função educativa e moral para as classes mais baixas, inspirando-as e elevando-as espiritualmente. A convivência entre diferentes classes permite a troca de valores e um refinamento natural da sociedade.

No urbanismo moderno, essa estratificação foi substituída por bairros segregados, impedindo a interação entre os mais ricos e os mais pobres. Antigamente, essa interação era natural, e as classes inferiores assimilavam valores das classes superiores sem imitação forçada.

A festa de São José reforça esse modelo de ordem sagrada. Ele, como pai legal de Jesus, possuía uma autoridade imensa e uma dignidade que transcende qualquer outro homem. A posição de São José no céu é equiparada à dos serafins, refletindo sua incomparável pureza e proximidade com Deus.

Portanto, a desigualdade social, longe de ser um mal, é um reflexo da ordem natural criada por Deus. Os superiores devem guiar os inferiores com exemplo e nobreza, enquanto os inferiores devem reconhecer e se beneficiar dessa hierarquia divina.

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