O texto abaixo é a transcrição dum sermão proferido pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, da Associação Cultural COr Mariae Dulcissimum, em 16/02/2025, Domingo da Septuagésima, em São Paulo/SP.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
Meus filhos, é evidente a distinção sapiencial da Santa Igreja ao escolher, para esta Liturgia, textos que nos conduzem à reflexão sobre o combate ascético e o labor santo. Na epístola, vemos a imagem da luta espiritual; no Evangelho, a chamada ao trabalho na vinha do Senhor. São Paulo utiliza a analogia das competições atléticas da época — herança maldita do Império Selêucida e depois absorvida pelos romanos — para demonstrar a futilidade dos esforços mundanos comparados à busca pela santidade. Hoje, vemos essa idolatria manifestar-se na alienação esportiva, um culto vazio que conduz as almas ao abismo.
Pergunto-vos sinceramente: qual deve ser a atitude de um católico verdadeiro diante dos bens temporais? Como devemos nos relacionar com aquilo que nos sustenta biologicamente? A resposta dos santos é clara: com liberdade, com disciplina, sem escravidão aos prazeres da carne. A Santa Igreja sempre ensinou que o excesso em todas as coisas — seja na comida, no descanso ou no lazer — atravanca o crescimento da graça em nossas almas. O “pão e circo” de nossa era não é menos destrutivo do que aquele dos tempos antigos; pelo contrário, hoje ele se apresenta mais implacável e devastador do que nunca.
Não estou aqui falando em hipóteses vagas, nem em possibilidades distantes. A escravidão ao prazer sensível é uma realidade presente em cada um de nós. E se nós não fizermos violência à carne, se não mortificarmos os sentidos, se não resistirmos ao mundo e ao demônio, seremos derrotados antes mesmo de iniciar o combate espiritual.
O mundo nos oferece, a todo momento, a prostituição das almas, e os revolucionários de todos os tempos souberam disso. Vejam o que ocorreu após a Revolução Francesa: espalharam a pornografia sob a forma de pseudoarte e lotaram Paris de cabarés. O próximo passo? A recriação das Olimpíadas modernas, cortesia do barão de Coubertin, o novo Antíoco. O objetivo? Continuar a distração das massas, impedindo-as de pensar e de se voltar a Deus.
Se realmente tivéssemos sede do Céu, nunca mais assistiríamos a uma partida de futebol, esse ópio moderno. Não se trata da prática moderada de um esporte para a saúde, algo que a Igreja sempre incentivou, mas sim do fanatismo, da idolatria e da luxúria que hoje se alastram como pragas. No Brasil, um país já rebaixado aos vícios, vemos a explosão das apostas esportivas, onde muitos chegam a retirar o alimento da boca dos filhos para sustentar um sistema de vício e destruição.
E, então, onde estão os serviços de Deus? Muitos chegarão no final dos tempos e receberão de Deus sua devida recompensa. Mas aqueles que combatem de forma resoluta, que entregam sua vida ao reinado de Cristo, esses serão os verdadeiros vencedores. Se não fizermos guerra à carne, ao mundo e ao demônio, não há esperança para nós.
Fim de semana, lazer, diversão — sim, desde que tudo seja regulado e ordenado para Deus. Que sentido faz, enquanto Cristo trava uma batalha contra o inferno, irmos para a beira de uma piscina beber e comer em excesso? Quem tem a consciência da batalha espiritual sabe que tudo deve estar sujeito à moderação e à sobriedade. Santifiquemos o domingo com um verdadeiro espírito de adoração a Deus, compartilhando um tempo sadio com a família, sem entregar-se às vaidades do mundo.
A verdade é que não nos entregamos totalmente a Deus, por isso também não nos entregamos de forma plena à nossa vocação. Se há algo que um católico deve buscar, é a defesa dos direitos de Deus. O mundo moderno não sabe o que fazer porque está sem pastores, está sem cabeça. O católico fiel, contudo, sabe que precisa lutar.
Cada um deve formular sua própria resolução para esta septuagésima, tomando decisões concretas de mortificação. Renunciem às comodidades do mundo! Não fiquem sentados com um balde de pipoca no sofá, perdendo tempo com entretenimentos vãos. Façam guerra contra a carne, contra o mundo, contra o demônio.
Temos, sim, uma grande generosidade, mas falta-nos inteligência espiritual. Somos generosos, mas não pensamos. E Deus quer que pensemos, que compreendamos sua Revelação à luz da Sagrada Escritura e da Tradição.
Peçamos hoje a Nossa Senhora Santíssima que nos conceda a graça da contrição, que sintamos dor pelos nossos pecados, pelas nossas tibiezas e pelas nossas falhas em servi-Lo. Que o Senhor nos conceda a graça da fidelidade e da verdadeira via purificativa, pois é o caminho necessário para odiarmos o pecado, o mundo e o demônio. Que possamos crescer espiritualmente, conscientes de que nossa luta mal começou e que agora nossa responsabilidade diante de Deus é ainda maior.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.