Introdução
A encíclica Redemptor Hominis, de João Paulo II, foi a primeira de seu pontificado e marcou um novo rumo na abordagem doutrinária da Igreja.
Uma análise cuidadosa mostra que esse documento contém afirmações que entram em conflito com o Magistério tradicional da Igreja Católica, especialmente no que diz respeito à liberdade religiosa, ao ecumenismo e à natureza da redenção.
Liberdade Religiosa e Direitos Humanos
A Redemptor Hominis defende a liberdade religiosa como um direito inalienável do homem, afirmando que qualquer limitação a esse direito viola a dignidade humana.
Essa perspectiva contraria o ensinamento perene da Igreja, conforme expressado na encíclica Quanta Cura de Pio IX e no Syllabus Errorum, que condenam a ideia de que “todo homem tem liberdade de professar a religião que lhe agrada”. Libertas Praestantissimum, de Leão XIII, ensina que a tolerância [e não a liberdade] religiosa pode ser admitida em determinados contextos, mas jamais como um direito divino, absoluto.
Ecumenismo e Religiões Não-Cristãs
Outro ponto problemático da encíclica é sua exaltação do ecumenismo e sua abordagem positiva sobre as religiões não cristãs. A ideia de que essas religiões possuem “valores espirituais” e podem contribuir para a verdade está em clara oposição ao ensinamento de Mortalium Animos, de Pio XI, que condena qualquer tentativa de união inter-religiosa que não passe pela conversão à Igreja Católica.
O Syllabus Errorum e outros documentos papais reforçam que as religiões falsas são um obstáculo à salvação das almas.
Cristo Unido a Cada Homem e o Universalismo
A Redemptor Hominis declara que Cristo, pela Encarnação, “se uniu de certo modo a cada homem”, numa afirmação, inspirada na Gaudium et Spes (22), que conduz ao erro implícito do universalismo, pois sugere que todos os homens estão ligados a Cristo independentemente da fé ou do Batismo.
Essa ideia contraria diretamente o Concílio de Trento, que ensina que a justificação ocorre apenas pela fé e pelo Batismo.
A Igreja e Sua Missão no Mundo
O documento também minimiza a natureza sobrenatural da missão da Igreja, enfatizando sua função social e sua relação com a dignidade humana. Essa abordagem ignora a doutrina estabelecida por Quas Primas, de Pio XI, que afirma que a Igreja deve reinar sobre as nações e não apenas servir como promotora de unidade social.
Além disso, a separação total entre Igreja e Estado, que se defende na encíclica, foi claramente condenada em Vehementer Nos, de Pio X.
Redenção e o Lugar do Homem
A encíclica coloca o homem como centro da Redenção, hipertrofia seus “direitos” e afirma que Cristo se uniu a cada indivíduo pela Encarnação, numa visão que distorce a doutrina tradicional da Redenção, que tem como objetivo principal restaurar a ordem sobrenatural por meio da graça santificante.
O Concílio de Trento ensina que a Redenção exige fé e Batismo, e Satis Cognitum, de Leão XIII, reafirma que fora da Igreja não há salvação.
Sacramentos e Liturgia
A visão da Eucaristia apresentada no documento minimiza seu caráter de Sacrifício propiciatório, contrariando a doutrina do Concílio de Trento, que define a Missa como a renovação incruenta do Sacrifício da Cruz. A ênfase excessiva no aspecto comunitário leva à relativização da Presença Real de Cristo na Eucaristia, contrária ao ensinamento de sempre da Igreja.
Conclusão
A Redemptor Hominis falha doutrinariamente e contradiz o Magistério tradicional da Igreja. Sua abordagem modernista (portanto herética ou, no mínimo, heretizante) sobre liberdade religiosa, ecumenismo, Redenção e sacramentos desvia-se da Tradição e compromete a verdadeira fé católica.
Os fiéis que desejam permanecer firmes na doutrina de sempre devem rejeitar tais erros e se apoiar no ensinamento seguro dos papas e concílios pré-Vaticano II.